Barbosa: seriedade na implantação de um sistema
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As reuniões entre as diretorias e os departamentos de gestão da
qualidade, particularmente nas empresas petroquímicas, vêm sendo pautadas
por três assuntos principais: a busca da excelência, a migração da
certificação ISO 9000 para a versão 2000, e a integração dos sistemas
de gestão.
A palavra Qualidade, nesse setor, já não se resume mais apenas à certificação
dos sistemas de gestão segundo a norma ISO 9000 – essa meta já foi
cumprida por praticamente todas as empresas. “A busca pela qualidade
é discutida em outro estágio: a excelência”, pontua José Simantob,
coordenador da Comissão de Qualidade da Abiquim.
E, quando se fala em excelência, logo vem à cabeça o Prêmio Nacional
de Qualidade, que tem critérios de excelência baseados em conceitos
mundiais. “A idéia é estar alinhada com as principais empresas mundiais”,
explica Tsiane Araújo, analista de gestão e qualidade da Politeno,
vencedora da última edição do PNQ.
Realmente o PNQ confere aos vencedores a categoria de “organização
de classe mundial”, uma vez que seus critérios são comparados às instituições
internacionais, como a americana Malcolm Baldrige. Além da Politeno,
também a Copesul (1997) e a Cetrel (1999) venceram o PNQ – e, em 1998,
a Regap foi finalista do prêmio.
Essa “excelência” abordada pelo PNQ não se reduz apenas à qualidade
de produtos ou de gestão. Dentre os critérios, itens que vão desde
estratégias até resultados da organização. “Os critérios de excelência
são os que vêem a gestão da maneira mais ampla, sem prescrever uma
metodologia. Para modelar um sistema de gestão de maneira completa,
o usuário pode utilizar outras ferramentas”, conta Teófanes Elias,
gerente de Desenvolvimento de Sistemas de Gestão da Petrobras.
É nesse ponto que entram as ferramentas complementares – desde a própria
ISO 9000 até a Seis Sigma, metodologia baseada em técnicas estatísticas
com vistas à solução de problemas crônicos e de dificuldade especial.
Difícil é determinar qual a metodologia mais eficaz para um programa
da qualidade, já que cada uma – TQC, CRM, 5S e Seis Sigma – se propõe
a uma especificidade. “Essas ferramentas trazem indicações que podem
ser inseridas num sistema de gestão para auxiliar na avaliação da
eficiência”, completa Samuel Barbosa, gerente de Novos Negócios da
certificadora DNV.
ISO 9000:2000
Ao contrário dos critérios do PNQ, a norma ISO 9000 tem foco mais
restrito: a gestão do sistema de qualidade da empresa. Só que, no
mundo empresarial, obter um certificado de conformidade com a norma
já não é diferencial, mas uma premissa para qualquer empresa que queira
se manter no mercado.
Para complicar, quem já possui esse certificado precisa adequar seu
sistema de gestão à nova versão da norma até o final deste ano – a
partir de 15 de dezembro, os certificados baseados na versão 1994
das normas ISO 9000 perderão a validade. “Não há nenhuma possibilidade
desse prazo ser estendido. Esse assunto já foi discutido com toda
a sociedade”, informa Alfredo Lobo, diretor da Qualidade do Inmetro.
Essencialmente pautada mais pela gestão, a nova versão da ISO 9000
é um aperfeiçoamento da versão anterior, inclusive para as indústrias
de processo, como é o caso do setor petroquímico – mas nem por isso
deixa de receber algumas críticas. A versão 2000 obriga, entre outras
coisas, que as empresas reorganizem seus manuais da qualidade.
O Sistema ISO não é semelhante às normas para a construção naval editadas
por algumas certificadoras /classificadoras – na maioria dos casos,
quando essas normas são revisadas, exigem que só navios novos, construídos
a partir da data da revisão, se adequem às novas condições.
Para certificar o sistema segundo a ISO 9000:2000, a empresa terá
um imenso trabalho para atualizar seu sistema, antes de receber a
visita dos auditores. “A filosofia adotada tanto pela ABNT quanto
pelo Inmetro é que, quando uma nova versão de qualquer norma é editada,
sua versão anterior desaparece”, explica Lobo.
Esse, provavelmente, pode ser um dos motivos que retardaram a atualização
dos certificados já emitidos segundo a ISO 9000:1994 para a nova edição
da norma. Até o final de 2002, de um universo de 4650 certificados
ISO 9000, 1023 haviam sido emitidos segundo a versão 2000 da norma.
Pouco? Não, se comparado com o início do ano, quando até então pouco
mais de 200 certificados ISO 2000 haviam sido emitidos. “O número
de emissões deu uma retraída em 2001, mas voltou a crescer em 2002.
Até o final do ano o número de certificados ISO 9000:2000 quadruplicou”.
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Lobo: foco na gestão é o grande mérito da nova ISO 9000
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Segundo o diretor do Inmetro, as empresas já se sentem mais seguras
para “migrar” para a nova versão. “Houve, num primeiro momento, uma
reação à incerteza em relação ao novo, então as empresas preferiram
esperar um pouco mais”.
E a crise na economia mundial, se congelou muitos projetos, por outro
lado contribuiu para que as empresas discutissem com maior ênfase
a questão. “O momento de retração de mercado é a hora em que as empresas
procuram mais a certificação. Primeiro porque ela vai aproveitar o
fato de ter um sistema certificado para aumentar sua projeção no mercado.
E também porque é o momento em que há tempo para dedicar-se aos projetos.
A implantação de um sistema de gestão demanda tempo: é necessário
deslocar pessoas e fazer reuniões e, quando a empresa está no pico
de produção, o tempo é escasso”, conta o gerente da DNV.
A nova ISO 9000 ainda deixa alguns deslizes: ao exigir um número menor
de procedimentos documentados, se por um lado reconhece que toda aquela
burocrática papelada exigida anteriormente na verdade não era tão
fundamental, por outro requer um conhecimento mais aprofundado dos
auditores. “O auditor tem que ser muito mais versado em aspectos de
gestão empresarial. Para questionar, ele precisa entender do processo
de fabricação, ou então vai avaliar superficialmente”, diz o gerente
da Petrobras.
Segundo números do Inmetro, menos que 10% dos auditores (internos
e externos) são certificados pela entidade. “As certificadoras devem
orientar a valorização do auditor do sistema de gestão. Não podemos
deixar de adotar uma gestão mais moderna por esse motivo”, objeta
Lobo.
De fato, a nova versão exige o monitoramento maior dos processos e
melhoria contínua, além de um envolvimento maior por parte da alta
administração. É o caso dos itens relacionados à adequação do produto
– que evitam absurdos como a fabricação de um produto que não terá
serventia. “Pelo fato desses itens não existirem na versão 1994 da
ISO 9000, não era motivo para algum fabricante fazer, por exemplo,
eletrodo de madeira, que não serve para soldar nada. A partir do momento
em que uma empresa busca implantar um sistema de gestão, tem que fazê-lo
com seriedade”, ressalta Samuel Barbosa.
E, apesar de não ser exigido na versão anterior, o uso de indicadores
de melhoria contínua de certa forma era uma premissa, já que, para
ter um controle, a empresa necessita apontar índices. Só que os auditores
externos não tinham um item para poder cobrar isso das empresas.
Esses aspectos não chegam a afetar completamente a ISO 9000:2000.
O grande mérito dessa nova versão é o foco na gestão – ao passo que
a versão 1994 se restringia aos aspectos intrinsecamente ligados à
qualidade. “A organização por processos assegura que aquilo que foi
projetado será produzido”, pontua o diretor do Inmetro.
Isso sem falar dos itens como “Monitoramento de Satisfação do Cliente”
ou “Avaliação de Resultados” proporcionam uma maior aproximação com
critérios de excelência. “Esses critérios dão uma consistência maior
à norma”, conta Sergio Leme dos Santos, diretor de Operações da Jaraguá,
empresa que recentemente teve seu sistema certificado pela nova ISO
9000.
Integração
Solução que vem suprimir uma visão fragmentada em qualquer organização,
a integração do sistema de gestão da qualidade com outros sistemas
de gestão, principalmente de meio ambiente e saúde e segurança ocupacional
– até mesmo com as diretrizes do Atuação Responsável. E as organizações
acabam reconhecendo que, no mundo moderno, a competitividade não é
mais assegurada quando se restringe a atender ao cliente da melhor
forma. A ordem agora é ser competitivo, ter boas relações com os funcionários,
fornecedores, comunidade e não agredir o meio ambiente.
Não só por esse motivo, mas a integração dos sistemas de gestão gera
uma simplificação e racionalização dos procedimentos. “Não dá para
falar sobre esses assuntos de maneira fragmentada”, conta Teófanes.
O problema, no entanto, é conseguir conciliar interesses nem sempre
parelhos. De repente um aspecto ambiental pode esbarrar no processo,
que já está comprometido com um determinado pedido – e se houver uma
mudança nesse processo para atender ao requisito ambiental, o cliente
não será atendido de forma satisfatória. “É necessária uma adequação
a todas essas situações. Esse talvez seja um dos pontos que explique
o porque de não termos uma corrida tão grande à integração de sistemas”,
sugere Samuel Barbosa.
A abordagem das normas também é diferente. A ISO 14000, por exemplo,
certifica um site, enquanto a ISO 9000 certifica um processo. “Isso
é um fator complicador, porque elas não são completamente compatíveis,
já que nasceram de perspectivas diferentes”, avalia o gerente da Petrobras.
Atendendo aos anseios de uma norma que orientasse a auditoria integrada,
recentemente a ISO lançou a norma 19011. A própria revisão da ISO
9000 já traz uma compatibilidade maior com outros sistemas de gestão.
“A lógica é muito semelhante”, conta Teófanes.
“É a visão dos profissionais que coordenam o trabalho que ditará os
resultados da integração dos sistemas de gestão”, completa o diretor
da DNV. |
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