Lançamento da Campanha: "A Refinaria é
Nossa" |
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Mesmo sem definição de uma política para resolver o déficit na área
de refino, a possível construção de uma nova refinaria vem despertando
a atenção de pelo menos seis Estados. Representantes de Pernambuco,
Espírito Santo, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará já procuraram
o Governo Federal e a direção da Petrobras para atrair o investimento
calculado em R$ 2 bilhões. O Rio de Janeiro foi mais longe: lançou
um movimento pró-refinaria para trazer o investimento para o Estado.
Na iminência de um déficit para processar todo o petróleo produzido
internamente, o governo estuda uma saída para a construção de pelo
menos duas novas refinarias no país – com o crescimento no consumo
de derivados e sem a construção de novas unidades, o Brasil terá que
importar, por dia, até 600 mil barris de derivados em 2010, segundo
estimativa da ANP.
“Estudos da ANP indicam que se o Brasil, mesmo com os atuais investimentos
da Petrobras, mantiver o número de refinarias, em sete anos estará
gastando anualmente US$ 6 bilhões em produtos derivados de petróleo,
como diesel, nafta e GLP. Vale ressaltar que uma refinaria nova teria
capacidade para processar cerca de 200 mil barris/dia e geraria, em
conjunto com as empresas agregadas a este parque, aproximadamente
30 mil empregos diretos e indiretos em sua fase de implementação”,
explicou o secretário de Petróleo do Rio de Janeiro, Wagner Victer.
Há pelo menos seis meses os técnicos da Agência e do Ministério de
Minas e Energia vêm estudando formas de atrair o capital privado para
o setor downstream. A alternativa do novo governo é passar a responsabilidade
da ampliação do parque de refino para a Petrobras, mesmo que numa
posição minoritária – a idéia, defendida desde a campanha eleitoral,
pode ser a única saída para o problema.
Diante da possibilidade, cada Estado tem reunido argumentos para convencer
a Petrobras e o Ministério de Minas e Energia. Todos querem mostrar
que têm o perfil atrativo para o investimento. As estratégias são
as mais variadas: desde a mobilização das bancadas estaduais do PT
até a participação no eqüity do empreendimento.
Em reunião com a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia), o governador
Paulo Hartung garantiu que o Espírito Santo tem as condições ideais
para receber uma refinaria, fundamentado no incremento da produção
terrestre e na entrada em operação dos novos campos de petróleo, que
levará o Estado ao posto de segundo maior produtor do país – com cerca
de 350 mil barris diários.
A produção também é um dos argumentos utilizados pela governadora
Wilma Faria (RN). O Estado produz diariamente 80 mil barris e está
localizado estrategicamente entre os maiores Estados consumidores
da região Nordeste. É apostando também na produção local - que gira
em torno dos 40 mil barris diários - e na origem política do presidente
da Petrobras que a bancada sergipana irá tentar trazer o investimento.
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O Estado de São Paulo, mesmo sem entrar oficialmente na disputa,
leva vantagem: de saída, o investimento necessário para ampliar uma
refinaria gira em torno de US$ 3 por barril, enquanto para construir
uma nova refinaria, o custo seria de US$ 10 a US$ 12 por barril, em
capacidade de processamento. Nesse sentido, as refinarias de Paulínia
e do Vale do Paraíba são as principais candidatas a receber investimentos
em expansão de capacidade, já que são as unidades mais novas do Sistema
Petrobras e possuem área disponível para uma possível duplicação de
tamanho.
O Estado responde também pelo maior consumo de derivados, e possui
uma infra-estrutura logística para distribuição que abastece parte
de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia.
Estados nordestinos levam vantagem
Na disputa pelo investimento, os Estados do Nordeste levam vantagem:
a construção de uma refinaria na região atenderia simultaneamente
a demanda de derivados – de 230 mil barris / dia – e a descentralização
da oferta – hoje fortemente concentrada na região sudeste do País.
A própria Dilma Rousseff anunciou que e pelo menos uma refinaria deverá
ser construída no Nordeste. “O critério é a desconcentração de desenvolvimento
regional. Dar mais força para regiões menos contempladas pelo desenvolvimento
do País, como é o caso do Nordeste”, explica a ministra.
Representantes da bancada pernambucana também se reuniram com o presidente
José Eduardo Dutra e com a ministra, apresentando um levantamento
feito pela própria Petrobras, em 1996, classificando o Estado como
local privilegiado para o empreendimento. O deputado federal Fernando
Ferro (PT-PE) alega que Pernambuco, através do Porto de Suape, tem
as melhores condições de receber o empreendimento.
Se o governo pernambucano aponta ainda a provável presença da venezuelana
PDVSA no empreendimento, o Ceará conta com a participação majoritária
da Saudi Aramco.
O governador cearense Lúcio Alcântara reuniu-se com a ministra das
Minas e Energia, Dilma Roussef, para falar sobre a refinaria da Petrobras.
Entre as vantagens apresentadas pelo governador está a posição geográfica
privilegiada do Estado para escoamento da produção aos mercados da
Europa e Estados Unidos, e o Porto do Pecém, que possui infra-estrutura
pronta para a refinaria da Petrobras, podendo receber navios de grande
porte.
Essas vantagens coincidem com um estudo da Petrobras, elaborado em
1987, que colocou o Ceará como o Estado nordestino que reúne melhores
condições técnicas para receber a refinaria. O Estado chegou a assinar
um protocolo de intenções com o grupo Thyssen, que pretendia construir
uma refinaria com capacidade inicial de 100 mil barris.
O presidente da Petrobras adverte que a escolha do local para o investimento
não depende de movimentos populares ou de mobilização política.
Rio lança movimento em conjunto com sociedade
A campanha mais ousada tem sido feita pelo Rio de Janeiro. Batizado
de “A Refinaria é Nossa”, o movimento tem o apoio da Federação das
Indústrias do Estado, da Associação Comercial, Federação do Comércio,
OAB-RJ, Crea-RJ e do Clube de Engenharia. “O Brasil não pode esperar
mais e o Rio de Janeiro é a solução. Afinal, se petróleo é nosso,
a refinaria também deve ser”, disse a governadora Rosinha Garotinho,
no ato público que lançou o movimento.
Pelo menos 15% do investimento deve ser garantido por um fundo de
recursos dos royalties sobre a produção de petróleo, criado em março
de 2002. Cerca de US$ 300 milhões deverão ser arrecadados em sete
anos – o dinheiro será investido na obra em troca de uma participação
acionária no empreendimento.
De acordo com o secretário de Petróleo do Rio de Janeiro, o Estado
tem as condições ideais de atrair o projeto da refinaria, porque além
de ser o maior produtor de petróleo, está próximo dos maiores centros
consumidores de combustíveis. “O Rio é candidato natural a ser o Estado
sede desta refinaria por produzir na Bacia de Campos 80% do petróleo
nacional”, afirmou Victer.
Rosinha destacou que qualquer novo projeto de refino no Brasil terá
participação ativa do BNDES e principalmente da Petrobras, que foi
informalmente impedida nos últimos anos, pela ANP, de fazer novos
investimentos de refino no País. “Chegamos ao absurdo de anunciar
a possível compra de uma refinaria nos EUA para processar o óleo da
Bacia de Campos. Porém, conseguimos, através de grande mobilização,
denunciar e impedir tal ato. Da minha parte todas as medidas para
viabilização deste empreendimento serão tomadas: desonerarei de ICMS
os equipamentos que venham a compor a refinaria e utilizarei o fundo
criado na gestão Anthony Garotinho para apoio à infra-estrutura e
até participação acionária minoritária, além de determinar o início
dos estudos ambientais preliminares para este projeto”.
O manifesto conta com uma logomarca, criada especialmente para a campanha,
que será estampada em carros e cabines da polícia, viaturas do Corpo
de Bombeiros, ambulâncias, no Diário Oficial do Estado e nos contracheques
dos servidores estaduais. O documento pela construção da Refinaria
Norte Fluminense – Renorte, com assinaturas de diversos representantes
da sociedade será encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva
nos próximos dias.
Victer encaminhou uma solicitação à ministra Dilma Roussef para que
o Conselho Nacional de Política Energética – CNPE inclua a construção
das refinarias com uma determinação no planejamento do órgão. Com
isso, o Governo ou a Petrobras teriam de realizar o investimento mesmo
que não encontrassem parceiros. O secretário ressalta ainda que a
construção de uma refinaria no Rio de Janeiro não inviabiliza a concretização
de um projeto similar no Nordeste.
A previsão é de que a refinaria possa operar entre três e quatro anos,
com capacidade para produção inicial de 200 mil barris por dia – podendo
chegar a 400 mil barris diários. O projeto chama a atenção também
por estar voltado ao refino do óleo pesado da Bacia de Campos.
Para Dilma Rousseff, as regiões produtoras também serão consideradas,
à medida que concentram condições mais rentáveis. “O estudo ainda
está no início. Isso implica em discussão a respeito da logística
e da rentabilidade dos empreendimentos. Tem toda uma análise a ser
feita. O que existe de concreto é que se faz necessário que o país
tenha novas refinarias". |
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Ed. 244 - Dez/002 - Jan/2003
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