Arecessão econômica afetava os
primeiros anos da década de 1980. A alta dos juros internacional já era
resultante da crise de petróleo em 1979, e a alta dependência de petróleo
(85%) do País que o deixou ainda mais vulnerável aos condicionantes externos.
Essa mesma crise retardou a ampliação do setor petroquímico brasileiro,
provocando o engavetamento do projeto da construção de um pólo petroquímico
em Itaguaí / RJ.
Neste cenário, o governo paulista de Paulo Maluf promoveu um dos episódios
mais polêmicos da sua carreira, a criação da Paulipetro. Em 1979, instituiu
o consórcio com o objetivo de explorar petróleo na Bacia do Paraná e achou
água – foram gastos cerca de US$ 500 milhões sem que nenhum óleo fosse
descoberto.
A Paulipetro é tida como um capítulo à parte na história dos contratos
de risco. Seja por pressão política ou por embasamento técnico, a campanha
da empresa foi agressiva. Responsável pelo maior investimento feito durante
aquele período, a Paulipetro fechou contrato para operar 27 blocos na
Bacia do Paraná.
A CPRM/SP atuou na cartografia de vários blocos e na análise morfo-estrutural
de semidetalhe nos estados de São Paulo e Paraná, participando também
as Superintendências Regionais de Salvador e de Goiânia. Entre 1980 e
1983, a empresa perfurou 33 poços em 20 blocos. A campanha acabou resumida
a uma única descoberta subcomercial, feita a partir de uma perfuração
na região de Cuiabá Paulista / SP. Quando as suas atividades foram interrompidas
pelo então governador Franco Montoro, a Paulipetro perfurava um poço em
Rio Vorá – que depois confirmou a presença de indícios de gás.
Queda no preço do petróleo
Uma variante modificava o país nesta
década e acabaria com coincidir com um momento decisivo para a indústria
petrolífera: após 21 anos de regime militar, a Nova República nascia em
março de 1985. O novo governo iniciou sua administração anunciando medidas
de austeridade fiscal e monetária, numa perspectiva claramente ortodoxa.
Como tais medidas demandariam tempo para surtir os efeitos desejados,
o então Ministro da Fazenda Francisco Dornelles determinou um congelamento
de preços, modificou as fórmulas de cálculo da correção monetária e das
desvalorizações cambiais. No momento de implementação do Plano Cruzado
a economia brasileira contava com um elevado produto industrial, um considerável
superávit na balança comercial, um volume adequado nas reservas internacionais
e um déficit público praticamente inexistente. Além disso, havia uma recente
queda no preço internacional do petróleo e a desvalorização da moeda norte-americana
frente a moedas européias e ao iene.
A persistência dos preços elevados até 1984 implicou a entrada de novos
produtores e uma etapa de superprodução cujo ponto crítico foi o ano de
1986, no qual os preços caíram abaixo do patamar de US$ 10 o barril.
Imediatamente após o anúncio da nova política econômica, a inflação caiu
significativamente, principalmente devido ao congelamento de produtos
siderúrgicos e derivados de petróleo.
Uma recessão geral tomou conta da economia internacional por cerca de
cinco anos. Países como o Brasil, que tinham dívidas em petrodólares,
foram à bancarrota. O ponto positivo foi o começo da busca por fontes
alternativas de energia. Em 1985, a Arábia Saudita, atingida pelo esfriamento
econômico geral, aumentou a produção de petróleo e o preço do produto
caiu pela metade.
Ainda no início da década de 1980, mudanças estruturais na economia norte-americana
(desregulamentação) e do Reino Unido (privatização) influenciaram as transformações
porque passou a economia mundial nos anos 90. Nos EUA, o governo Reagan
promove a desregulamentação da economia e ao mesmo tempo eleva as taxas
de juros com o intuito de conter a escalada inflacionária provocada pela
mudança no patamar dos preços do petróleo ocorrida nos anos 70. Isso fez
com que a moeda referencial para empréstimo internacional ficasse mais
cara, o resultado foi o encarecimento das linhas de crédito internacional.
Os países em desenvolvimento, principais tomadores de recursos, passaram
por aquilo que se convencionou chamar “Crise da Dívida Externa”.
Esse fato provocou um desaquecimento na economia global, iniciando um
movimento de queda no preço do petróleo. Além disso, há um segundo efeito
sobre o preço provocado pelo surgimento de tecnologias que permitiram
reduzir custos e ampliar os horizontes de produção das reservas.
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Esse período exibiu o revés do anterior, ou seja, o “Contra-Choque do
Petróleo”, que significou uma queda acentuada nos preços do petróleo,
sendo o ano de 1986 o marco do período em questão. A partir de então,
os preços internacionais dessa fonte primária de energia deixaram de ser
administrados pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo – Opep,
iniciando a chamada “Era do Consumidor”. O marco inicial dos processos
de desregulamentação e privatização de empresas petrolíferas foi a venda,
em 1979, no governo Thatcher, de 5% de participação na British Petroleum,
uma das dez maiores empresas de petróleo do mundo, cujo processo de privatização
foi concluído em 1987. Entre os principais fatores que motivaram mudanças
em quase todas as empresas de petróleo – estatais, regionais ou internacionais
– estão o crescimento da globalização, o declínio do poder da Opep no
controle dos preços internacionais do hidrocarboneto e criação de mercados
futuros de petróleo através da Bolsa de Nova York (NYMEX) e da de Londres
(IPE).
Acidentes
A década de 1980 é marcada também por acidentes. Em março de 1980 a plataforma
Alexander Keillan, de Ekofisk, no Mar do Norte, naufraga, deixando 123
mortos; em outubro de 1981 uma embarcação de perfuração afunda no Mar
do Sul da China, matando 81 pessoas; em setembro de 1982, a Ocean Ranger,
plataforma americana, tomba no Atlântico Norte, quando morrem 84 pessoas.
Em fevereiro de 1984 um homem morre e dois ficam feridos durante a explosão
de uma plataforma no Golfo do México, diante da costa do Texas. Também
o Brasil viu a “bruxa” rondar as suas atividades em agosto de 1984, quando
37 trabalhadores morrem afogados e outros 17 ficam feridos na explosão
de uma plataforma da Petrobras na Bacia de Campos.
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Quase todos os anos da década de 1980 foram marcados por acidentes –
quem não lembra do incêndio que destruiu a Vila Socó, em Cubatão / SP?
Em janeiro de 1985, a explosão de uma máquina bombeadora na plataforma
Glomar Ártico II, no Mar do Norte, causa a morte de um homem e ferimentos
em outros dois; em julho de 1988, no pior desastre em todo o mundo relacionado
a plataformas de petróleo, 167 pessoas morrem quando a Piper Alpha, da
Occidental Petroleum, explode no Mar do Norte, após um vazamento de gás
. Em setembro de 1988, uma refinaria da empresa francesa Total Petroleum
explode e afunda na costa de Bornéu. Quatro trabalhadores morrem. O ano
de 1988 registra, na verdade, vários acidentes, como o incêndio que destruiu
a plataforma de Enchova, na Bacia de Campos. Setembro começa com um incêndio
que destrói uma plataforma da companhia americana de perfuração Ocean
Odissey, no Mar do Norte, quando morre um operário. 1989 registra também
dois acidentes que merecem destaque: em maio, três pessoas ficam feridas
com a explosão de uma plataforma da empresa californiana Union Oil Company.
Ela operava na Enseada de Cook, no Alasca e, em novembro, a explosão de
uma plataforma da Penrod Drilling, no Golfo do México, deixa 12 trabalhadores
feridos.
Na indústria química, um vazamento de gás na unidade da Union Carbide
em Bhopal, Índia, acelera as decisões das multinacionais em implantar
a cultura de responsabilidade. Em 1983, no Canadá, surgia o Responsible
Care, que no Brasil recebe o nome de Atuação Responsável.
Amazonas e Marlim
A descoberta do campo de Rio Urucu, no Amazonas, no dia 12 de outubro
de 1986, respondeu a uma antiga indagação, mostrando, afinal, que havia
petróleo comercial na Amazônia. Além de comercial, o óleo é de primeira,
muito leve, de excelente qualidade, e flui associado ao gás natural. Para
escoar esse óleo, produzido em pleno coração da Amazônia, foi necessário
montar um estrutura especial, a cargo do Dtnest, numa região em que não
há estradas, só rios praticamente desconhecidos até a chegada da Petrobras
na região, porque não existem cidades em suas margens.
O projeto de desenvolvimento de Urucu foi condicionado, assim, pelas limitações
de escoamento, conduzindo a Petrobras a fazer, na prática, a história
da navegação dos rios Tefé e Urucu. A primeira fase do projeto foi concluída
em julho de 1988, quando o campo entrou em produção. Cerca de 3 mil barris
diários de óleo eram extraídos de três poços e processados numa pequena
estação coletora. Foi construído um oleoduto de cinco quilômetros, entre
essa estação e o rio Urucu. Balsas de pequeno porte levavam o óleo até
a cidade de Coari, às margens do rio Solimões. Ali se realizava o transbordo,
para balsas maiores, que transportavam o óleo até a Refinaria de Manaus
– Reman. Nessa etapa, o gás natural produzido associado era queimado.
Em 1985, navios de posicionamento dinâmico permitiram a perfuração em
cotas batimétricas cada vez maiores e logo nos primeiros poços foram descobertos
os gigantes Albacora (400 a 1.000 metros) e Marlim (700 a 1.200 metros),
com os turbiditos se afirmando como os principais reservatórios das bacias
da Plataforma Continental Brasileira. Com a acelerada informatização da
Petrobras, ganhou força a idéia de fortalecer o processamento sísmico
doméstico, inclusive com a compra de supercomputadores.
Por esta época, o Pró-Álcool começa a ser questionado. O modelo energético
que vinha sendo favorável – enquanto os preços de petróleo mantinham-se
elevados, em razão dos choques de petróleo da década de 1970, que perduraram
até o início da década de 1980, começa a ser colocado em xeque.
Quando a oferta de petróleo em todo o mundo tornou-se mais ampla e, por
conseqüência, os preços do produto começaram a cair, mantendo-se até os
dias atuais num nível significativamente mais baixo, deu-se a derrocada
da produção alcooleira no Brasil, que foi reforçada ainda pela queda dos
preços do açúcar no mercado internacional. Assim, tornou-se evidente que
o Pró-Álcool foi erigido como um portentoso edifício sobre uma base frágil,
pois os custos de produção envolvidos são muito elevados e os produtos
oferecidos são poucos.
Os contratos de risco terminaram em outubro de 1988, permanecendo apenas
os contratos em que tinham sido feitas descobertas consideradas comerciais.
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Ecologia em alta
Já no final dos anos 80 o apelo ecológico começa a tomar conta de empresas
petrolíferas e o Brasil se destaca pela Petrobras, tendo toda a sua gasolina
isenta de chumbo tetraetila – composto altamente tóxico e que inviabiliza
o uso de conversores catalíticos nos veículos, por causar a sua deterioração.
Sentindo a necessidade de consolidar a exploração das regiões de águas
profundas e ultra-profundas na Bacia de Campos e em outras bacias da costa
brasileira, continuar a busca por óleos mais leves e gás, perfurando em
busca de objetivos profundos, tanto na Bacia de Campos quanto no restante
da margem continental brasileira, a Petrobras criou o Programa de Capacitação
Tecnológica – Procap, em 1986, para realizar estudos para viabilizar a
produção de petróleo em profundidades cada vez maiores pela Petrobras.
É também pelo petróleo que inicia um ciclo de redução da intervenção do
Estado na economia, tornando-a mais moderna e competitiva.
Avançando nesse caminho a Petrobras pulveriza no final da década de 1980
os excedentes de suas ações. O esforço de maior transparência, obtido,
principalmente, através da adequação do balanço da empresa às normas contábeis
norte-americanas, preparando a companhia brasileira para o lançamento
de novos tipos de papéis no mercado de capitais norte-americano, a venda,
através de pulverização dos papéis junto ao público, de 34% dos 85% de
ações ordinárias que o governo detém na companhia marcam a entrada da
Petrobrás na década de 1990.
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