A década de 1990 começa com mais uma
crise no mercado do petróleo, quando, em uma tentativa frustrada o Iraque
invade o Kwait e é derrotado na Guerra do Golfo pelos EUA. O exército
de Sadam Hussein chegou a bombardear os poços de petróleo kwaitianos antes
da retirada. Por conta dessa história uma grande especulação fez com que
o preço do barril oscilasse violentamente, passando os preços internacionais
do petróleo a sofrer uma forte alta pontual. Mas, assim como a guerra,
a crise também foi rápida e não deixou grandes estragos como as anteriores.
Seguiu-se um período de estabilidade e crescimento.
Com a entrada dos russos no mercado e a descoberta de novas tecnologias
de extração, a produção de petróleo aumentou. O problema foi que a economia
mundial cresceu muito em meados dos anos 90. Seguindo a tendência, o petróleo
poderia ter provocado novo esfriamento nessa temporada, mas a crise financeira
que atacou a economia asiática em 1997 evitou nova falta de óleo.
A característica principal dessa década é a transformação do petróleo
numa verdadeira commodity, ou seja, os fatores de mercado passaram a ser
preponderantes na formação de preço em detrimento das questões de natureza
política. Além disso, a década de 1990 é marcada por uma queda nos investimentos
em exploração, pela queda da produção do Bloco Soviético que foi compensado
pelo aumento da produção da Arábia Saudita. Também se pode destacar a
mudança no perfil de demanda do petróleo em função de exigências ambientais,
quando os petróleos leves passam a serem exigidos.
Até 1994, o petróleo apresenta uma trajetória de queda. A partir de 1994,
os níveis de preço são parcialmente recuperados oscilando entre US$ 18
e US$ 25 o barril até 1996. A partir de 1997, o preço do petróleo começa
uma trajetória de queda, chegando a atingir US$ 10/barril em 1998. Esse
movimento exagerado de queda atingido em 1998 pode ser explicado basicamente
em função da crise asiática e da volta ao mercado da produção do Iraque.
Petróleo e Sociedade
A greve nacional dos petroleiros, em
maio de 1995, representou a luta contra a política neoliberal implantada
no atual governo. O movimento foi duramente golpeado chegando o Exército
a ocupar a Refinaria de Paulínia, em São Paulo. A greve foi considerada
abusiva pelo Tribunal Superior do Trabalho, que impôs aos sindicatos uma
multa diária. As distribuidoras de gás de cozinha esconderam a mercadoria,
atribuindo a culpa aos petroleiros. Após 31 dias, a greve chegou ao fim.
No mundo, o contexto é outro e começam a surgir alianças estratégicas
entre empresas estatais e privadas, privatizações, além do “boom” do movimento
de fusões entre as empresas do setor ocorrido após 1998. É o caso da Exxon
com a Mobil; a BP com a Amoco e, posteriormente, com a Arco; a da Repsol
com a argentina YPF; as francesas Elf e Total e já em outubro de 2000
entre a Chevron e a Texaco, criando a quarta maior empresa de petróleo
do mundo. Na área petroquímica, a Dow dá grandes saltos no fim da década,
adquirindo a Union Carbide e investindo no setor petroquímico argentino.
Também o Brasil viu distribuidoras internacionais entrarem no mercado,
como a Agip, e aquisições, como a operação envolvendo o Grupo Ipiranga
e a Atlantic.
Recorde verde-amarelo
Considerada a empresa que mais contribuiu,
em nível mundial, para o desenvolvimento tecnológico da indústria do petróleo
no mar, a Petrobras alcança na década de 1990 o posto de empresa líder
mundial em exploração em águas profundas.
Em 1992, a companhia recebeu o prêmio da Offshore Technology Conference
- OTC, em reconhecimento internacional à tecnologia na produção até os
dois mil metros de profundidade. Dois anos depois, bateu o recorde mundial
com produção em lâmina d’água de 1.027 metros. Desde 1986, quando foi
criado o Programa de Capacitação Tecnológica, a Companhia procura viabilizar
a produção de petróleo em profundidades cada vez maiores. Isso porque
na faixa de lâmina d´água entre 1.000 e 2.000 metros estão 23% das reservas
brasileiras, e a previsão é de que 50% das reservas a serem descobertas
se situarão em águas ultraprofundas.
Em 1997, a empresa, que tem a maior frota petroleira do Hemisfério Sul,
ingressou no selecionadíssimo grupo dos 16 países que produzem mais de
um milhão de barris de petróleo por dia.
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A descoberta do gás
O crescimento da descoberta de gás natural muda o panorama do setor,
num momento crítico que acontece quase no final da década de 1990: a previsão
de que em 1999 haveria problemas de escassez energia elétrica no Brasil.
Com isso, a energia proveniente do gás natural ganhou importância para
o desenvolvimento sustentado do País como fonte alternativa de oferta.
A implantação de usinas termelétricas nas extremidades da malha elétrica
que, estrategicamente colocadas, aproveitem as linhas de transmissão existentes
passaram a ser uma excelente alternativa de curto prazo.
Além da produção de gás natural existente na Bacia de Campos e na Foz
do Amazonas, o Governo Federal firmou contrato com a Bolívia para a construção
de um gasoduto que transportasse o insumo produzido pela Petrobras naquele
país. O limite inicial de fluxo era de 18 milhões de m3, até que surgiu
o Plano Prioritário de Termeletricidade do Governo Federal, com 49 usinas
termelétricas que consumiriam 39 milhões de m³ diários. “Esse programa
tomou corpo e fez com que o gás transportado ficasse no limite do gasoduto,
já precisando de uma expansão”, conta Antonio Luiz de Menezes, gerente
do Projeto do Gasoduto, atual diretor da Área de Gás e Energia da Petrobras.
Fim do monopólio
A indústria de petróleo e gás, após décadas de monopólio da União, exercido
por intermédio da Petrobras, com a Emenda Constitucional nº 9, de 1995,
ingressa em uma nova etapa em 1997. Esta Emenda extinguiu a exclusividade
na execução do monopólio nas atividades básicas da indústria e a Lei nº
9478/97 disciplinou a abertura à participação direta do setor privado,
em todos os elos da cadeia produtiva.
A complementação do novo quadro institucional veio com a instalação, em
1998, da Agência Nacional do Petróleo – ANP, com amplas atribuições de
regulação, contratação e fiscalização das atividades no setor de petróleo
e gás natural.
A efetiva quebra do monopólio deu-se com a realização, pela ANP, em junho
de 1999, da primeira rodada de licitação de blocos para a contratação
das atividades de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e
gás natural. Nessa rodada, foram licitados 27 blocos, representando 2%
da área das bacias sedimentares brasileiras, dos quais 12 foram concedidos.
Caso as empresas concedentes tenham sucesso nos levantamentos iniciais,
passando aos períodos exploratórios subsequentes em todos os blocos, serão
alcançados 57 poços exploratórios, sendo perfurados em até nove anos.
Para o segmento de Exploração e Produção da Petrobras, 1999 foi um ano
de avanço no novo ambiente da indústria petrolífera no Brasil. O fim da
década de 1990 é marcado pelo ressurgimento do poder da Opep, responsável
por 40% da produção mundial, em particular dos países do Oriente Médio,
detentores de 80% das reservas da Opep. Isso, aliado à continuidade da
queda da produção Russa, do Mar do Norte e dos EUA, e a mudança do perfil
de petróleo, fizeram com que fosse iniciado um novo ciclo de crescimento
do preço do petróleo.
Privatização do setor petroquímico
O Governo de Fernando Collor é marcado pelo fim do modelo tripartite:
começam as privatizações – que acabou trazendo uma série de entraves que
afetaram a cadeia petroquímica até o final da década.
A alienação das participações societárias da Petroquisa nas empresas petroquímicas
abriu espaço para o emaranhado que marcou o setor: empresas de segunda
geração foram as principais compradoras dos ativos, de forma a garantir
o suprimento de matérias-primas. Como conseqüência, o inevitável conflito
causado pela presença de grupos concorrentes, com interesses distintos,
no capital de uma mesma central petroquímica.
Até que, no final da década, começaram os movimentos dos players por uma
reestruturação do setor petroquímico, visando a integração entre a primeira
e a segunda geração, com controle restrito a, no máximo, dois grupos privados
– modelo baseado na participação acionária da Copesul.
A brusca redução de barreiras aduaneiras numa época de recessão mundial
também comprometeu a rentabilidade da indústria nacional.
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