As questões relacionadas a disponibilidade, qualidade e
preço de matérias-primas estão no centro da
agenda da industria petroquímica nacional. Esses tópicos
foram debatidos durante o Fórum de Debates Projeto Brasil
- A Reestruturação da Petroquímica Brasileira,
realizado ontem em São Paulo.
Em primeiro lugar devido ao peso do custo dos insumos nas despesas
da indústria petroquímica - em média 65%. E,
em nome da sustentabilidade do negócio, o setor busca solucionar
a questão disponibilidade de matéria-prima para atender
a futura demanda.
O conselheiro do IBP, Otto Perrone, apresentou um levantamento realizado
pela Abiquim mostrando que, até 2010, a demanda de eteno
no Brasil crescerá entre 4,5 milhões e 5,5 milhões
de toneladas - dependendo do desenvolvimento da economia e do consumo
de resinas.
O desafio será encontrar matéria-prima para atender
a esse aumento do mercado. "Para atender a toda essa demanda
partindo de nafta, precisaríamos de 16 milhões a 19
milhões de toneladas. E isso não é uma questão
de querer ou não, o consumo vai haver. Precisamos saber se
vamos atender com produção própria ou vamos
ter divisas para importar", avalia Perrone.
Atualmente as três centrais nacionais consomem cerca de 10
milhões de toneladas por ano - pelo menos 30% importada.
Algumas das plantas podem processar condensado - uma matéria-prima
que vem ganhando espaço entre os crackers. E a próxima
planta a ser inaugurada no país - Rio Polímeros -
fará resinas a partir do gás natural. "A distribuição
do consumo de matérias-primas previsto para 2005 não
difere muito do que é hoje, a não ser pelo crescimento
do condensado. Mas a nafta continuará sendo uma matéria-prima
predominante no mundo inteiro".
Isso porque, mesmo que só 31% da nafta seja transformada
em eteno, os co-produtos gerados têm suas utilizações.
"Quem parte de etano contido no gás natural para fazer
produtos petroquímicos, tem que ter em mente que o etano
praticamente só gera eteno. Então não podemos
pretender ter uma industria petroquímica somente baseada
em gás", explica Perrone.
Mas o panorama para aumento da produção de nafta é
incerto - particularmente no Brasil. "O investimento da Petrobras
em downstream está voltado para aumentar a conversão
de resíduos e melhorar a qualidade dos produtos. Seria necessário
que houvesse um aumento substancial da capacidade de refino, para
que se tivesse um aumento apreciável da oferta de nafta".
Mesmo assim, com o tipo de óleo pesado - cujo rendimento
em nafta é de 7,5% - ainda que o parque de refino fosse ampliado,
a produção adicional de nafta não passaria
de 3 milhões de toneladas.
Outros países também se deparam com o aumento da oferta
de petróleo pesado - com geração maior de resíduos
e alta relação carbono / hidrogênio. O desafio
tecnológico é aumentar a conversão dos resíduos
em frações mais leves (seja através de coqueamento,
desasfaltação, RFCC ou HDC), ou ainda disponibilizar
tecnologia para reduzir essa concentração de carbono
ou adicionar hidrogênio.
Perrone citou como exemplo o RFCC da Petrobras, voltado para a produção
de combustíveis, mas que pode ser direcionado para a produção
de olefinas com a modificação do hardware e do catalisador.
O gás natural também tem suas limitações:
em primeiro lugar pelo tamanho das reservas provadas nacionais,
que são de 236,6 bilhões de m³. E mesmo que as
recentes descobertas de gás na Bacia de Santos acrescentem
mais 419 bilhões de m³, as reservas não chegarão
a um trilhão de m³. "Essa reserva de gás
natural encontrada na Bacia de Santos, que triplica as reservas
brasileiras, é muito importante para o país e poderá
dar uma contribuição para resolver os problemas, mas
continuamos sendo um país muito modesto em reservas".
Também há a questão do volume de etano contido
no gás - segundo as avaliações preliminares
da Petrobras, o percentual de etano na composição
do gás do campo de Mexilhão é de 3,5%. O gás
importado da Bolívia também tem suas limitações
quando o assunto é etano.
E ainda assim, há a limitação em gerar apenas
olefinas - a partir do gás natural não é possível
produzir benzeno e poliestireno.
"Além disso, o EUA está passando por uma crise
que é estrutural. A demanda por geração térmica
a partir de gás natural cresceu, mas a oferta não.
O Comitê de Petróleo ligado à Secretaria de
Energia dos EUA estima que, apenas se uma série de fatores
mudar, os preços podem manter-se em US$ 5 / MMBTU, caso contrário
chegará a US$ 7 / MMBTU, conta Perrone.
O gás de refinaria seria uma opção apenas como
complemento - já que não existe quantidade nem viabilidade
logística que justifique sua utilização. "Se
pegarmos todas as refinarias do país, e somarmos todo o eteno
existente no gás gerado no FCC, teremos 250 mil toneladas.
Pouco para uma necessidade de 5,5 milhões de toneladas".
A matéria-prima que deve ganhar mais espaço entre
a indústria petroquímica mundial é o condensado
- fração obtida durante o processamento do gás
natural. "Esse líquido de gás natural é
uma ótima matéria-prima, e sua oferta está
crescendo, porque a produção de gás natural
cresce mais do que a produção de petróleo.
Mas existe o problema da sazonalidade, e o preço dessa matéria-prima
reflete isso", explicou Perrone.
Na opinião do superintendente da Suzano Petroquímica,
Armando Guedes Coelho, um caminho seria compatibilizar os interesses
da industria Petrobras - no papel de fornecedora de matéria-prima
- de forma que seu projeto estratégico estivesse alinhado
à produção de cargas petroquímicas.
A solução para coincidir os interesses poderia ser
a presença da empresa de petróleo no negócio
petroquímico. "Na prática, a indústria
de petróleo, por várias razões, não
está compatibilizando seus investimentos com preparo de fontes
para a petroquímica. Por isso é importante a presença
da empresa de petróleo no negócio petroquímico",
argumentou Armando Guedes Coelho. (FB)
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