Notícias online — Fevereiro de 2004
São Paulo, 06 de fevereiro de 2004
Disponibilidade de matéria-prima é desafio para petroquímica

As questões relacionadas a disponibilidade, qualidade e preço de matérias-primas estão no centro da agenda da industria petroquímica nacional. Esses tópicos foram debatidos durante o Fórum de Debates Projeto Brasil - A Reestruturação da Petroquímica Brasileira, realizado ontem em São Paulo.

Em primeiro lugar devido ao peso do custo dos insumos nas despesas da indústria petroquímica - em média 65%. E, em nome da sustentabilidade do negócio, o setor busca solucionar a questão disponibilidade de matéria-prima para atender a futura demanda.

O conselheiro do IBP, Otto Perrone, apresentou um levantamento realizado pela Abiquim mostrando que, até 2010, a demanda de eteno no Brasil crescerá entre 4,5 milhões e 5,5 milhões de toneladas - dependendo do desenvolvimento da economia e do consumo de resinas.

O desafio será encontrar matéria-prima para atender a esse aumento do mercado. "Para atender a toda essa demanda partindo de nafta, precisaríamos de 16 milhões a 19 milhões de toneladas. E isso não é uma questão de querer ou não, o consumo vai haver. Precisamos saber se vamos atender com produção própria ou vamos ter divisas para importar", avalia Perrone.

Atualmente as três centrais nacionais consomem cerca de 10 milhões de toneladas por ano - pelo menos 30% importada. Algumas das plantas podem processar condensado - uma matéria-prima que vem ganhando espaço entre os crackers. E a próxima planta a ser inaugurada no país - Rio Polímeros - fará resinas a partir do gás natural. "A distribuição do consumo de matérias-primas previsto para 2005 não difere muito do que é hoje, a não ser pelo crescimento do condensado. Mas a nafta continuará sendo uma matéria-prima predominante no mundo inteiro".

Isso porque, mesmo que só 31% da nafta seja transformada em eteno, os co-produtos gerados têm suas utilizações. "Quem parte de etano contido no gás natural para fazer produtos petroquímicos, tem que ter em mente que o etano praticamente só gera eteno. Então não podemos pretender ter uma industria petroquímica somente baseada em gás", explica Perrone.

Mas o panorama para aumento da produção de nafta é incerto - particularmente no Brasil. "O investimento da Petrobras em downstream está voltado para aumentar a conversão de resíduos e melhorar a qualidade dos produtos. Seria necessário que houvesse um aumento substancial da capacidade de refino, para que se tivesse um aumento apreciável da oferta de nafta".

Mesmo assim, com o tipo de óleo pesado - cujo rendimento em nafta é de 7,5% - ainda que o parque de refino fosse ampliado, a produção adicional de nafta não passaria de 3 milhões de toneladas.

Outros países também se deparam com o aumento da oferta de petróleo pesado - com geração maior de resíduos e alta relação carbono / hidrogênio. O desafio tecnológico é aumentar a conversão dos resíduos em frações mais leves (seja através de coqueamento, desasfaltação, RFCC ou HDC), ou ainda disponibilizar tecnologia para reduzir essa concentração de carbono ou adicionar hidrogênio.

Perrone citou como exemplo o RFCC da Petrobras, voltado para a produção de combustíveis, mas que pode ser direcionado para a produção de olefinas com a modificação do hardware e do catalisador.

O gás natural também tem suas limitações: em primeiro lugar pelo tamanho das reservas provadas nacionais, que são de 236,6 bilhões de m³. E mesmo que as recentes descobertas de gás na Bacia de Santos acrescentem mais 419 bilhões de m³, as reservas não chegarão a um trilhão de m³. "Essa reserva de gás natural encontrada na Bacia de Santos, que triplica as reservas brasileiras, é muito importante para o país e poderá dar uma contribuição para resolver os problemas, mas
continuamos sendo um país muito modesto em reservas".

Também há a questão do volume de etano contido no gás - segundo as avaliações preliminares da Petrobras, o percentual de etano na composição do gás do campo de Mexilhão é de 3,5%. O gás importado da Bolívia também tem suas limitações quando o assunto é etano.

E ainda assim, há a limitação em gerar apenas olefinas - a partir do gás natural não é possível produzir benzeno e poliestireno.

"Além disso, o EUA está passando por uma crise que é estrutural. A demanda por geração térmica a partir de gás natural cresceu, mas a oferta não. O Comitê de Petróleo ligado à Secretaria de Energia dos EUA estima que, apenas se uma série de fatores mudar, os preços podem manter-se em US$ 5 / MMBTU, caso contrário chegará a US$ 7 / MMBTU, conta Perrone.

O gás de refinaria seria uma opção apenas como complemento - já que não existe quantidade nem viabilidade logística que justifique sua utilização. "Se pegarmos todas as refinarias do país, e somarmos todo o eteno existente no gás gerado no FCC, teremos 250 mil toneladas. Pouco para uma necessidade de 5,5 milhões de toneladas".

A matéria-prima que deve ganhar mais espaço entre a indústria petroquímica mundial é o condensado - fração obtida durante o processamento do gás natural. "Esse líquido de gás natural é uma ótima matéria-prima, e sua oferta está crescendo, porque a produção de gás natural cresce mais do que a produção de petróleo. Mas existe o problema da sazonalidade, e o preço dessa matéria-prima reflete isso", explicou Perrone.

Na opinião do superintendente da Suzano Petroquímica, Armando Guedes Coelho, um caminho seria compatibilizar os interesses da industria Petrobras - no papel de fornecedora de matéria-prima - de forma que seu projeto estratégico estivesse alinhado à produção de cargas petroquímicas.

A solução para coincidir os interesses poderia ser a presença da empresa de petróleo no negócio petroquímico. "Na prática, a indústria de petróleo, por várias razões, não está compatibilizando seus investimentos com preparo de fontes para a petroquímica. Por isso é importante a presença da empresa de petróleo no negócio petroquímico", argumentou Armando Guedes Coelho. (FB)




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