Revista Petro & Química
Edição 372 • 2017

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Matéria de Capa
A energia da nova geração de petroleiros
 
Por que, mesmo com as incertezas em relação ao futuro, a indústria do petróleo permanece atraente? | Flávio Bosco
 

Desde que o petróleo foi apontado como fonte de energia e combustível para transporte, entre o final do século XIX e os primeiros anos do século XX, gerações têm se fascinado com sua capacidade de transformar economias. A história está recheada de exemplos de empresas e nações que se consolidaram impulsionadas pelo petróleo, e tudo o que orbita ao seu redor é ditado no superlativo – das cifras envolvidas para extraí-lo das entranhas da terra aos montantes envoltos nas histórias de corrupção.

Curiosamente, não faltou quem prenunciasse seu ocaso – o mais célebre de todos foi o geólogo Marion King Hubbert, que previu o peak oil (quando a produção de petróleo atingiria o auge e entraria em declínio) entre 1965 e 1970. De todas as teorias, restou apenas a certeza que o petróleo é um recurso finito.

Controvérsias à parte, o petróleo continua incentivando o desenvolvimento econômico e tecnológico mundo afora. No Brasil, sua força pode ser avistada por todos os cantos: junto com o gás, responde por quase metade da oferta de energia. Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria estima que o petróleo represente 11% do PIB industrial. Outro estudo, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, aponta que cada US$ 1 bilhão que é investido em petróleo no país tem força para gerar mais de 35 mil empregos. Os royalties e participações especiais cobrados sobre a extração de um recurso mineral reforçam em aproximadamente R$ 18 bilhões por ano o caixa de governos federais, estaduais e municipais – sendo que R$ 862 milhões patrocinam universidades e institutos de pesquisa. “Os derivados de petróleo estão presentes nos automóveis, nas casas e, inclusive, em alimentos. Desse modo, o setor possui uma enorme influência em nossas vidas”, afirma a engenheira química Patrícia Carneiro dos Santos.

A despeito de todas as incertezas acerca do seu futuro, a indústria do petróleo mantém-se instigante para um grupo de jovens como Patrícia, que acredita em um longo horizonte para essa fonte de energia. “É natural que a transição para uma nova matriz energética aconteça, porém a atividade da indústria não vai deixar de existir. O petróleo deixará de ser a fonte primária de energia mundial e isso vai começar a acontecer um tempo depois do início da produção em massa dos carros elétricos”, reforça o tecnólogo em petróleo e gás, Victor Couto Alves.

Patrícia e Victor representam uma geração que chegou à idade adulta no auge da indústria do petróleo e que teve a primeira oportunidade da carreira quando ainda estava na sala de aula. Essa geração, que agora está ocupando posições chaves nas empresas, entende que as mudanças na mobilidade e a economia de baixo carbono trarão mudanças profundas às indústrias. E que isso pode representar oportunidades – afi nal, todo o conhecimento necessário para extrair o petróleo das entranhas da terra e transformá-lo em combustíveis pode ser absorvido em inúmeras atividades. “A análise de formações geológicas, bem como avaliação econômica e desenvolvimento de sistemas de exploração e produção são aplicáveis para o setor de mineração e extração de água de lençóis freáticos, por exemplo. Num cenário em que a água potável pode ser um bem escasso no futuro, quem sabe se a extração de água subterrânea não seja uma saída alternativa?”, explica o auditor Christiano Lins Pereira.

Além de visão pragmática, eles também reconhecem que a indústria do petróleo não sairá de cena tão cedo. As renováveis são fontes intermitentes – sol e vento não estão disponíveis o dia todo – e ainda precisam vencer uma etapa crucial de reduzir os preços dos sistemas de armazenamento de energia. “Apesar de a tecnologia avançar cada vez mais no desenvolvimento de carros elétricos, é necessário analisar, por exemplo, como será a geração de energia que irá mover este automóvel, toda a infraestrutura de abastecimento (substituir postos de gasolina ou diesel por estações elétricas) para estes automóveis, e até mesmo, qual a fonte de energia que as indústrias que constroem estes automóveis utilizam”, observa o economista Daniel Braune.

A mais recente edição de uma pesquisa elaborada pela Seção Brasil da SPE com os Young Professionals aponta que 90% dos jovens avaliam como ruim ou péssimo o cenário atual da indústria do petróleo no Brasil, em relação a mercado de trabalho – 49% dos que responderam à pesquisa não estão empregados. Ainda assim, mais da metade deles indicaria esse segmento a um amigo. A SPE ouviu 78 profi ssionais na faixa etária dos 20 a 30 anos. A maioria (85%) se formou ou está cursando engenharia – 54% em instituições públicas. O dado que surpreende é justamente a remuneração: da turma que está empregada em operadoras ou em prestadoras de serviços, 62% ganha acima de R$ 7.200 por mês – geralmente eles têm, pelo menos, cinco anos de experiência.

A propósito, a atração de jovens passou a fazer parte da lista de prioridades da indústria global nos últimos anos – para as petroleiras e prestadoras de serviço, despertar o interesse em quem via o petróleo como combustível do passado tornou-se um desafio.

Consumo reconfigurado

Não é exagero dizer que a história do Brasil contemporâneo passa pela indústria do petróleo. A construção das refi narias, nos anos 50 e 60, alçou a engenharia nacional a outro patamar. Um pouco depois, quando a Petrobras começou a extrair petróleo na Bacia de Campos, o país passou a ser reconhecido internacionalmente por ter escrito um novo capítulo no manual de produção em alto mar. A Lei do Petróleo, que tirou da Petrobras o monopólio sobre a produção e o refi no em 1997, regulamentou a cobrança e a distribuição de royalties sobre o que fosse extraído do subsolo – esse dinheiro cresceu a reboque do aumento da produção e da cotação do barril no mercado internacional e foi a mola propulsora que fomentou um salto na infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento. É verdade que, para cada um desses momentos de euforia a história registra um instante de desolação.

 
 
Dessa vez, o roteiro é muito diferente: todas as projeções apontam para a substituição do petróleo onde uma fonte alternativa tiver envergadura para ocupar o espaço. A começar pelo maior consumidor: o segmento de transportes. As mudanças na mobilidade e o advento dos veículos elétricos têm força para desfi gurar a matriz de consumo – de combustível líquido, ele passaria a ser mais uma fonte para gerar energia elétrica. A discussão sobre esse tópico ganhou mais força quando as principais economias do mundo anunciaram a intenção de banir os combustíveis fósseis como forma de conter o aquecimento global, e o petróleo e o carvão passaram ser encarados como inimigos a serem abatidos.

Todas as consultorias especializadas prognosticam que o pico de consumo de petróleo ocorrerá entre 2030 e 2040, e será seguido por um declínio signifi cativo. Elas apenas não coincidem quanto ao prazo – para a Agência Internacional de Energia - IEA o petróleo representará 34% da matriz energética mundial em 2040, ante 42% de participação atual. O BP Energy Outlook aponta que em 2035 o petróleo representará em torno de 27% da matriz. O espaço perdido, no entanto, será ocupado pelo gás natural – até porque a energia solar e a eólica ainda não tem escala nem capacidade para suprir toda a demanda em 100% do tempo. O relatório DNV GL’s Energy Transition Outlook estima que em 2050 o petróleo e o gás atenderão 44% do suprimento mundial de energia, nove pontos abaixo do que representam hoje – sendo que o gás se tornará a principal fonte de energia a partir de 2034.

As petroleiras já se deram conta dessa disrupção. Shell, Total, Exxon e Chevron, por exemplo, estão injetando capital em startups dispostas a criar soluções para a conversão e distribuição de energia elétrica. “Enquanto as startups possuem uma estrutura ágil de desenvolvimento e implementação de novas soluções no mercado, as operadoras possuem os recursos para os investimentos. Desta forma, elas ampliam a atuação em novos nichos sem perder o foco no seu core business”, destaca Christiano.

Tecnologia cria novos modelos para a produção e o refino

No final de agosto, durante a O&G TechWeek – evento que o Instituto Brasileiro do Petróleo promoveu para discutir tecnologia e tendências – especialistas mostraram que não são apenas os carros elétricos e autônomos que têm o poder de moldar o setor de energia – e a indústria do petróleo em particular. A computação cognitiva e a inteligência artifi cial têm criado novos modelos e oportunidades de negócios para a extração, o transporte e o refi no. Um especialista da Microsoft usou um óculos de realidade aumentada para colocar a plateia dentro de uma plataforma de petróleo – a tecnologia permite que pessoas sejam treinadas e que o processo seja operado ou monitorado remotamente.

Outro caminho já iniciado é a instalação no fundo do mar dos equipamentos que geralmente fi cam sobre as plataformas. “A tecnologia tem o papel de possibilitar a extração de petróleo em área mais desafi antes e com menor uso de capital. Será com este foco que as tecnologias serão desenvolvidas”, aponta o engenheiro Celso Junior.

Da mesma forma, as refi narias já estão se apropriando de tecnologias de big data, machine learning e data analytics, que permitem manipular imensas quantidades de dados coletados por sensores instalados nos equipamentos. Robôs e drones usados para inspecionar áreas perigosas são o símbolo dessa nova forma de lidar com as instalações, mas uma revolução ainda maior acontece nos algoritmos – são eles que analisam os dados, fazem correlações e sugerem a decisão a ser tomada. O desenho da refi naria do futuro apropria parte da infraestrutura de uma instalação tradicional, agregando adaptações que permitam o coprocessamento de correntes oriundas da biomassa em seus processos.

Até mesmo as tecnologias de captura e armazenamento de CO2, quando consolidadas, terão infl uência sobre a forma de produzir petróleo. A quebra de paradigmas coloca uma série de desafi os nas mãos desses jovens – a boa notícia é que essa geração está mais preparada para entender esses desafi os. “O grande problema é que os meios acadêmicos tradicionais não estão acompanhando este raciocínio. A maior parte do ensino ainda é feita em cima de livros e material teórico, sem o mínimo de aplicação nas ferramentas que serão utilizadas pelo profi ssional. O jovem, dependendo da especialização desejada, tem que buscar por si só este complemento em sua formação”, ressalta Christiano.

Ninguém duvida que a matriz energética terá uma nova confi guração em poucos anos. Patrícia, Victor, Christiano, Daniel e Celso preferem ecoar uma declaração do ex-ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ahmed Zaki Yamani, que acabou repetida como mantra entre os profi ssionais da indústria do petróleo: a idade da pedra não terminou por falta de pedras, e a idade do petróleo não terminará por falta de petróleo.
 
Patrícia Carneiro dos Santos é quase uma veterana na indústria do petróleo. Aos 32 anos, ela já acumula uma graduação em Engenharia Química, um mestrado em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos e um doutorado em Planejamento Energético, todos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de uma especialização em Engenharia de Processamento de Petróleo e Gás, por um convênio da Universidade Estadual do Rio de Janeiro com a Universidade Corporativa da Petrobras.
Trabalhar nesse setor não foi uma escolha ocasional. Seu primeiro contato com essa indústria ocorreu ainda no estágio obrigatório do curso técnico de química industrial, realizado na unidade de óleos lubrifi cantes e graxas da Shell. Patrícia permanece atuando no downstream, agora na área de refi no e gásquímica da Petrobras. “No limite de conhecimento atual, arrisco dizer que o setor de petróleo não deixará de existir – lembrando que o petróleo também é uma rica matéria prima para fi ns petroquímicos, não se limitando apenas a sua queima para fins de obtenção de energia”.

Das conversas com outros profi ssionais da sua geração, Patrícia testemunha o interesse em aprofundar seus conhecimentos quanto às fontes ditas alternativas, como a biomassa e a solar, que possuem grande potencial – seja por meio de desenvolvimento de pesquisa ou pela participação em debates sobre o tema, como uma maneira de se preparem para este processo de disrupção. “As discussões para um mundo descarbonizado ocorrem como um refl exo da maneira como os próprios países interagem a nível mundial. Certamente, estas discussões poderiam contar com maior apoio de executivos dos governos e com debates mais amplos sobre os desdobramentos destas metas para cada país. No momento, penso que os esforços maiores devem ser direcionados para evitar retrocessos, especialmente aqueles oriundos de grandes consumidores de energia”.

Para ela, a complexidade da indústria do petróleo – envolvendo assuntos interdisciplinares, equipes numerosas e o relacionamento com uma série de públicos de interesse, que vão desde fornecedores e consumidores até instituições governamentais – dá ao profi ssional atuante nesse setor uma relativa facilidade em atuar em outros setores industriais. “Como conselho aos jovens profi ssionais da indústria, recomendo que invistam sempre na sua capacitação. As atividades e os projetos no setor de petróleo apresentam certa ciclicidade, o que faz com seja importante para os jovens compreenderem que deverão enfrentar momentos de alta e baixa visibilidade. Porém é importante que estejam bem preparados para as oportunidades que aparecerem”.
 
Victor Couto Alves pode ser apontado como a cara dessa nova geração de petroleiros – muito por conta das várias entrevistas dadas a jornais e TV no ano passado, quando o Brasil sediou o WPC Future Leaders Forum pela primeira vez.
Victor parece que se multiplica para dar conta de seu trabalho – atualmente ocupa a posição de especialista em gestão do conhecimento em uma prestadora de serviços – participar de dois comitês do IBP, da diretoria da seção brasileira da Society of Petroleum Engineers - SPE, e ainda manter atualizado um blog sobre carreira na indústria do petróleo.
Foi justamente através desse blog que surgiu o primeiro estágio no setor, nove anos atrás, quando ainda estava concluindo a graduação em Tecnologia em Petróleo e Gás.

A possibilidade de uma remuneração acima da média do mercado pesou na escolha dessa carreira – assim como trabalhar em uma atividade desafi ante e muito intensiva em tecnologia e conhecimento. Atualmente Victor tem 28 anos e está concluindo a graduação em Engenharia de Produção. Sua aposta é que a energia solar – devido à abundância da fonte, facilidade de instalação, redução dos custos e avanço das tecnologias de armazenamento – tenha potencial para deslocar o petróleo do primeiro lugar na matriz energética global. E que os serviços on demand e tecnologias de colaboração em ambientes virtuais reinventarão a mobilidade, a logística e a demanda por energia. Por outro lado, a realidade virtual e aumentada tem portas abertas nas tarefas de exploração e a produção de petróleo e gás. Victor lembra que as empresas de petróleo já compreenderam a necessidade de novas fontes – prova disso são os investimentos realizados em energias alternativas. “As empresas produtoras de petróleo continuarão sendo protagonistas nessa área de energia, comprando ou atuando em parceria com empresas menores, mais enxutas e ágeis que já tem atuado nesse segmento”.

Na sua análise, áreas que possuem alta intensidade de tecnologia e conhecimento, como automobilística, aviação e construção, podem se aproveitar do conhecimento construído na indústria do petróleo – de alguma forma, elas acabam se conectando. E é sempre importante manter o radar para outras áreas, pois os conhecimentos se complementam. “A pessoa que trabalha numa área técnica por exemplo, pode ser muito útil se for para a área fi nanceira por exemplo. Ele trará sua bagagem e perspectiva que talvez uma pessoa que sempre trabalhou nessa área não perceberá”.
 
Para Christiano Lins Pereira, a transição para um mundo descarbonizado está a caminho, mas, por uma questão de escala, sua consolidação ainda levará tempo. “É difícil afi rmar até quando dependeremos do petróleo, mas estamos esquecendo de refl etir sobre um aspecto que antecede isso tudo: qual é a relevância do petróleo e todos os seus derivados em nossas vidas? Uma tecnologia limpa, que preserve a natureza e dê qualidade de vida às futuras gerações é primordial, mas o ponto é que a tecnologia de massa, numa escala global, se baseia em petróleo desde a Segunda Revolução Industrial”.
Ademais, o preço do petróleo é um indicador macroeconômico que faz a balança pender ora para o lado dos combustíveis fósseis ora para o lado renováveis. “Com o preço do barril na casa de US$ 100, o investimento em renováveis tende a ser maior, seguindo a busca por uma fonte de energia mais barata, além de ter o apelo sustentável. Agora, quando o barril cai para um patamar de US$ 50, não há o que se discutir numa mentalidade focada em custo-benefício. Os renováveis não conseguem ainda competir com esse preço e acabam perdendo espaço e fôlego para novas pesquisas e aplicações”.

Nesse cenário de disrupção, Chistiano aposta que a relação entre a indústria do petróleo e a sociedade terá uma nova pauta, centrada nas questões de transparência e sustentabilidade. O desafi o, para os jovens, é manterse preparados diante do avanço da tecnologia. O jovem, dependendo da especialização desejada, tem que buscar por si só este complemento em sua formação”.

Christiano tem 24 anos e está concluindo a graduação em Engenharia de Petróleo na Universidade Federal Fluminense, embora já atue na área econômica – há um ano é auditor independente especializado em empresas de petróleo e gás na KPMG. Chegou a essa posição justamente por conta de network – a indicação de um professor foi o primeiro degrau para chegar à consultoria. “O que me fascina na área de petróleo e gás é a dimensão e importância que ela tem, tanto a nível econômico, social e político quanto tecnológico. Conciliar o desenvolvimento econômico no curto prazo com o uso racional do recurso no longo prazo, fomentar o crescimento de fornecedores locais que impactam na geração de empregos, bem como estar na ponta do domínio tecnológico para se manter competitivo são desafi os que sempre existirão e, se você souber onde encontrar as oportunidades, será um profi ssional diferenciado”.
 
A opção de Daniel Braune pela área energética está relacionada ao papel desse segmento no desenvolvimento econômico mundial. Economista de 25 anos, Daniel trabalha para a RioSil Consultoria e, como os profi ssionais de sua faixa etária, está atento às mudanças impostas pela tecnologia – porque a indústria hoje busca jovens dinâmicos, dispostos a se adaptarem para encarar desafi os. “Os jovens estão se especializando, aprofundando seus conhecimentos no setor de energia como um todo”.
Na sua avaliação, os profi ssionais que conseguem ter sucesso na indústria do petróleo – caracterizada por desafi os complexos e conhecimentos técnicos muito específi cos – podem aplicar estes conhecimentos em outras áreas – principalmente em indústrias que transitem nos campos de comércio internacional, exploração de recursos naturais, confl itos geopolíticos, tecnologia de ponta e capital intensivo.

Por outro lado, ainda que fontes renováveis venham ganhando participação na geração de energia, elas ainda não têm porte para substituir os combustíveis fósseis, principalmente em países emergentes – que apresentarão maior aumento de demanda por energia nos próximos anos. “Estudos sobre a matriz energética mundial apontam que até 2040, pelo menos, o mundo ainda será dependente de fontes fósseis de energia primária”.

Isso porque, a despeito do rápido avanço dos carros elétricos, ainda não há um substituto para a gasolina ou para o diesel que atenda a demanda dos atuais meios de transporte. Também sobram questões paralelas – como a fonte suprirá a geração de energia elétrica que irá mover estes automóveis, a infraestrutura de abastecimento que substituirá os postos de combustíveis, e até mesmo a fonte de energia que as indústrias que constroem estes automóveis utilizam. “Outro fator interessante nesta discussão é o perfi l das gerações mais jovens, que são mais adeptos à utilização de meios de transporte coletivos do que a ideia de ter um veículo próprio”, ressalta.

Nesse cenário, o drive será o conceito de efi ciência energética – que permita a geração de resultados idênticos ou melhores em um mesmo processo, a partir de uma quantidade menor de energia. “O mundo ainda é muito dependente do petróleo. A indústria de petróleo e gás movimenta bilhões de dólares em investimentos e transações comerciais por ano. Sua vida útil está diretamente ligada ao retorno dos investimentos no setor e, principalmente, no desenvolvimento de tecnologias que permitam que outras fontes possam reduzir a dependência por petróleo ou até substituir sua utilização”, fi naliza Daniel.
 
Em um cenário que desafi a jovens a assumir o protagonismo, a busca por soluções disruptivas e inovadoras deverá ser um dos focos da nova geração, avalia o engenheiro Celso de Guignet Dresjan Junior. Não há espaço para o inevitável. Para ele, os carros elétricos e autônomos terão um papel fundamental na demanda por energia – principalmente se a energia solar for a principal fonte de suprimento.
Mas a indústria do petróleo nunca deixará de existir – apesar da mudança gradativa da matriz energética, pelas próximas três décadas o petróleo ainda preserva papel essencial na oferta global de energia. “Carros autônomos serão importantes no futuro. No entanto, existe toda uma infraestrutura que deverá necessariamente ser discutida, como as interações entre os veículos e as cidades”.

O engenheiro ressalta que as discussões voltadas para políticas “limpas” e tecnologias que possibilitem uma menor emissão de carbono tem, cada vez mais, ganhado espaço central na agenda das grandes potências econômicas. “Devido as mudanças climáticas, que acredita- s e serem infl uenciadas pela indústria petrolífera, a transição energética deve continuar a ser discutida pelos grandes players”.

Celso é formado em Engenharia Química pela Universidade Federal Fluminense. Ainda na faculdade se identifi cou com a área de petróleo. Começou trabalhando na engenharia e seguiu caminho pela área de pesquisa alinhada à exploração e produção. Aos 28 anos já tem no curriculum uma pós-graduação pela PUC-Rio e um mestrado em Engenharia de Petróleo pela Heriot-Watt University, da Escócia. Atualmente trabalha para a Petrogal e participa da Comissão de Inovação e Tecnologia do IBP.

Temas como a extração de petróleo em área mais desafi antes e com menor uso de capital e o descomissionamento de toda estrutura atualmente em operação já estão na sua pauta diária. Como a maioria dos jovens, Celso acredita que a expertise acumulada pela indústria do petróleo possa também ser aproveitada em outras áreas. “Toda a indústria tem seus pontos em comum e experiência sempre será valorizada em qualquer ramo de atividades. Acredito que posições a níveis gerenciais tem mais facilidade em se adequarem a novas áreas”.
 
 
 


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