Revista Petro & Química
Edição 371 • 2017

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Petróleo & Gás
Hora da retomada
 
Novos projetos trazem de volta investimentos em exploração e produção | Flávio Bosco
 

A iminência da declaração de comercialidade da área de Pão de Açúcar, na Bacia de Campos, é o emblema da retomada em um setor que há tempos não encomenda uma nova plataforma para produção de petróleo. O bloco foi adquirido na 7ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo, realizada em 2005, pelo consórcio formado por Repsol e Statoil.

Desde então o país viveu a euforia da descoberta das reservas no pré-sal e a melancolia da queda nos preços do petróleo e da falta de novas áreas exploratórias. Um levantamento da Accenture Strategy mostra como o ânimo oscilou nesse período: em 2013 o setor de petróleo e gás no Brasil recebeu um investimento de US$ 33 bilhões. No ano seguinte, quando os preços do barril iniciaram o movimento de queda e a Operação Lava Jato foi defl agrada, os investimentos somaram US$ 31 bilhões.

Em 2015, foram US$ 23 bilhões, e no ano passado os aportes caíram para US$ 16 bilhões. A Petrobras, endividada, pôs o pé no freio e reduziu de US$ 30 bilhões para US$ 14 bilhões seus investimentos nesses quatro anos. O refl exo mais visível foi a queda do volume de reservas de petróleo – de 16,2 bilhões de barris em 2014 para 12,7 bilhões de barris no ano passado.

“O fato de não termos investimentos signifi cativos de outras operadoras se dá justamente pelo fechamento do mercado causado pela falta de rodadas de licitação. Cada projeto no présal atrai cerca de US$ 10 bilhões para a fase de desenvolvimento da produção. Com alguns projetos em andamento, facilmente teríamos um investimento até 100% maior do que é hoje”, afi rma diretor executivo da consultoria, Matheus Nogueira.

A boa notícia é que esses aportes devem iniciar uma trajetória ascendente – para US$ 19 bilhões já em 2018 e chegar a US$ 29 bilhões em 2022, segundo projeções da Accenture Strategy. O novo patamar de preços do petróleo já está absorvido pela indústria. E o peso da Petrobras será menos preponderante daqui para a frente.

A própria Agência Nacional do Petróleo estima que as áreas que serão ofertadas até 2019 conseguirão atrair US$ 80 bilhões em investimentos diretos. “A maior questão está relacionada a custo e competitividade. Há cerca de 41 rodadas de licitação programadas para 2017 e 2018, e o Brasil, como todos os outros países, compete por dólares limitados”, ressalta o Chief Upstream Strategist da IHS Markit, Bob Fryklund. As nove Rodadas que irão acontecer nos próximos três anos terão a oferta de blocos tanto no modelo de concessão quanto no de partilha de produção. O maior potencial está nas áreas localizadas em águas profundas das Bacias de Campos e Santos – que não são ofertadas desde 2006, quando o governo decidiu que as áreas com potencial para o pré-sal seriam ofertadas sob o regime de partilha da produção, com a operação única da Petrobras.

Nas áreas unitizáveis – reservatórios que se estendem além das fronteiras de um campo do profícuo pré-sal – o investimento deve chegar mais rápido – que na indústria do petróleo signifi ca aproximadamente três anos. “Como você já tem um risco exploratório menor, porque já existe a descoberta em um campo adjacente, a empresa faria só uma campanha de avaliação, que é mais curta, e já poderia começar a fazer o investimento no ciclo de produção”, ressalta Nogueira.

Os projetos já anunciados pela Petrobras e suas sócias e também por Queiroz Galvão, Karoon e Statoil trarão mais 21 plataformas para as Bacias de Santos e de Campos até 2021 – e um aumento de 700 mil barris à produção de petróleo e gás do país, hoje em torno de 2,6 milhões de barris por dia. No longo prazo, a produção de petróleo deve chegar a 5 milhões de barris por dia. O Brasil é apontado até pela da Organização dos Países Exportadores de Petróleo - Opep como um dos principais responsáveis pelo aumento na oferta global de petróleo para os próximos anos. Há mais otimismo do que pessimismo em relação ao futuro. Resta saber qual o tamanho da fatia que caberá à sociedade brasileira – e isso dependerá dos bônus arrecadados nas Rodadas, dos royalties pagos sobre a extração do petróleo e do gás e, sobretudo, do percentual de bens e serviços contratados localmente.

 
 
 
 
 


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