Edição 359 • 2014

Įgua: reutilizar para reduzir consumo
 

Reduzir a pegada ambiental, às vezes, depende de pequenas ações. Um bom exemplo é o reaproveitamento dos efluentes que seriam descartados. Na Elekeiroz, o reuso dos efluentes da estação interna de tratamento de água, incluindo a padronização das descargas de fundo, permitiram recuperar boa parte do efluente – nos últimos dois anos, a empresa registrou uma redução de 74 mil m³ na captação e de 67 mil m³ no volume descartado.

Os projetos implantados na unidade de Várzea Paulista / SP custaram R$ 6,3 mil – quase nada quando comparados com o retorno que proporcionaram: por ano, R$ 125 mil deixaram de ser gastos com tratamento. De quebra, prepararam a empresa para enfrentar a restrição para captação de água na bacia formada pelos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, já proposta pelos órgãos reguladores.

As correntes antes descartadas agora retornam à estação de tratamento de água e juntam-se à água de chuva – que também passou a ser aproveitada. “Não tivemos uma nova tecnologia implementada, mas a otimização. Analisamos os processos, com foco maior na estação de tratamento de água, avaliando a viabilidade de aproveitar as correntes que eram descartadas”, conta o gerente de Segurança e Meio Ambiente da Elekeiroz, Luiz Marques.


Um novo ciclo de avaliação em busca de novas fontes já está em andamento – os técnicos da empresa estudam a viabilidade de reaproveitar outras correntes do processo e da estação de tratamento de água. Em paralelo, têm o desafio de otimizar o consumo em alguns processos industriais – desafio porque o volume captado já é baixo quando comparado com seus pares. As tecnologias adotadas pela Elekeiroz consomem 2,75 m³ de água por tonelada produzida. O índice de reuso atualmente está em 2% do volume captado e 20% do efluente gerado – o número é menor quando comparado com a média das indústrias químicas, mas a Elekeiroz descarta 0,24 m³ de efluentes por tonelada produzida, um quinto da média registrada pela indústria química.

Não é de hoje que o abastecimento de água inquieta a Elekeiroz. Este ano os gastos com tratamento da água devem somar R$ 1 milhão – não é um valor desprezível.

Reuso dobra nos últimos anos

Embora não seja incorporada diretamente à produção, a indústria petroquímica não pode prescindir da água para gerar vapor e resfriar equipamentos. As empresas que possuem unidades industriais em outros estados têm a opção de direcionar a produção para escapar da escassez hídrica que atinge a região sudeste do país. Mas a reutilização de efluentes que seriam descartados é um dos negócios mais promissores para reduzir a captação. Nos últimos três anos, o índice dobrou – em 2010, a média de reuso, segundo levantamento realizado pela Associação Brasileira da Indústria Química, foi de 20,45%. A adoção do reciclo total dos efluentes em algumas das unidades industriais, reuso das águas das estações de tratamento e adoção de critérios de preservação e sustentabilidade no uso do recurso hídrico elevou o percentual para 40,25%.

No mesmo período, o volume de água captada diminuiu de 5,46 m³ para 4,83 m³ por tonelada de produto, e o volume de efluentes descartados caiu de 1,8 m³ para 1,2 m³ por tonelada de produto.

Na última década houve um rápido desenvolvimento de soluções que tornaram o reuso mais eficiente. Um exemplo é o sistema formado por Eletrodiálise Reversa - EDR e troca iônica implantado na Refinaria Abreu e Lima, que permitirá o reaproveitamento de cerca de 500 m3/h de água. Duas correntes são tratadas para reuso: purga das torres de resfriamento e efluente da estação de tratamento de rejeitos industriais. A purga da torre passa por um tratamento físico-químico, constituído por clarificação, filtração em filtros de areia e antracito e filtros de carvão ativo. O efluente industrial passa por tratamento no reator biológico com membranas - MBR e filtros de carvão ativo. As duas correntes se unem e são enviadas ao sistema de dessalinização e desmineralização – formado por EDR e troca iônica. Ao final dessa etapa de tratamento a água está pronta para ser reutilizada. “Apesar de ter sido desenvolvida há mais de 20 anos anos, a tecnologia de eletrodiálise reversa vem se difundido mais intensamente nos últimos dez anos”, destaca Renato Grecco, diretor de Desenvolvimento da Enfil – empresa responsável pelo fornecimento do sistema.

A Enfil já havia fornecido o sistema de tratamento de água para a Refinaria Henrique Lage - Revap, com capacidade de produzir 600 m3/h de água desmineralizada para alimentação de caldeiras de alta pressão. A estação de tratamento mescla a água captada no rio Paraíba com os efluentes produzidos pela refinaria e o condensado do vapor recuperado. O tratamento do efluente – que representa 62,5% do volume da estação de tratamento – envolve três etapas: filtração granular por membranas, cartucho e pré capa, adsorção química por carvão ativado e dessanilização por membranas, seguida por resina de troca iônica.

O sistema de reuso implantado há três anos pela Veolia em uma das unidades da Braskem no polo do ABC / SP possibilita reutilizar até 30 m³/h – o que significa redução de 70% no descarte. O sistema é formado por tratamento físico químico – com a tecnologia Actiflo – filtros multimídia, filtros de carvão ativado e sistema de osmose reversa. Essa tecnologia Actiflo é um sistema compacto que utiliza microareia para a formação de flocos – o processo é baseado na sedimentação lastreada, em que os flocos mais pesados, formados pela combinação sólido, coagulante e polímero aderidos aos grãos de microareia, aumentem a velocidade de sedimentação em até 120 vezes em relação ao tratamento convencional. A água de reuso é utilizada na alimentação de caldeira de média pressão e do sistema de resfriamento. “Por ter uma velocidade de sedimentação elevada, propõe uma solução de unidade muito compacta, chegando a reduzir em até 20 vezes a área de uma instalação convencional, conseguindo ainda trabalhar com variações da água bruta de alimentação e se estabilizando em um período de tempo muito rápido em relação aos sistemas convencionais”, explica o gerente de Venda de Produto da Veolia Water Technologies, Franco Olevak.

O gerente de Vendas da Divisão de Water & Process Technologies da GE, Marcus Vallero destaca que os novos desenvolvimentos agora terão como diretriz a redução do consumo energético – autosustentáveis, próximos do consumo zero de energia ou até produzindo energia a partir do biogás gerado pela carga orgânica. A empresa – responsável pelo sistema MBR implantado na Revap e pelo fornecimento do Mobile Water, um sistema de tratamento móvel de água contratado pela Braskem – desenvolveu uma linha de tratamento de efluentes, batizado de LEAPmbr, com a aplicação do cassete LEAP, que tem a menor demanda de ar para a limpeza das membranas, e o sistema LEAPprimary, que incrementa o tratamento preliminar com a separação de parte da matéria orgânica em um filtro de banda para envio ao sistema de digestão anaeróbia.

Um problema tão delicado como a escassez de recursos hídricos tem mais chance de ser resolvido com a soma de pequenas contribuições inteligentes.

 

 
 

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