Edição 354 • 2014


 
Esforço para competir

A indústria petroquímica está perdendo a sua tonalidade verde e amarela. Uma quantidade cada vez maior de resinas produzidas no exterior tem atendido a demanda interna – em 2013, 1,1 milhões de toneladas de polietilenos e polipropileno desembarcaram no país, volume que representa 27% do consumo interno. Nesse ritmo, o país pode se tornar importador líquido de polipropileno antes que qualquer produção adicional comece a despontar do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – se as projeções da consultoria IHS se confirmarem e a demanda crescer em média 5% ao ano, em três anos os volumes de importação serão maiores do que a exportação. A demanda por polietilenos, embora avance num ritmo mais lento – 3,5% ao ano – também empurra o país para a linha que separa os importadores dos países que têm excedente de capacidade.

Desde 2010, quando a Braskem colocou em operação da planta de eteno verde, a rodução dessas duas resinas não dá um salto signifi cativo. O projeto de polietilenos verdes da Dow, que deveria entrar em operação em 2011, perdeu relevância diante do advento do shale gas americano. E o Comperj, originalmente projetado como uma refinaria voltada para produção de petroquímicos a partir do petróleo pesado, deveria entrar em operação em 2012, mas tomou novo rumo após a descoberta das reservas do pré-sal – a Braskem e a Petrobras já sabem que o complexo terá o gás natural como fonte de matérias-primas, mas sem a definição dos volumes disponíveis, o projeto estacionou na fase de engenharia.

“O Comperj é a única hipótese que poderia trazer alívio a esta situação, mas ainda não há, neste momento, planos firmes para esse projeto. No entanto, mesmo que se torne uma realidade, não esperamos que esse projeto inicie as operações até o final desta década. Além disso, considerando a grande quantidade de capacidade que será adicionada na América do Norte, esperamos que a maioria, se não todos os grandes produtores da região, terão um desejo de exportar polietileno para o Brasil”, aponta o analista da Área de Poliolefinas - Americas, Javier Ortiz.

No ano passado, o consumo interno dessas duas resinas deu um salto de 7%, somando 4,1 milhões de toneladas – 74% dessa demanda foi suprida pela Braskem, que operou suas plantas de polipropileno 83% da capacidade e as unidades de polietilenos a 85%.

A estrutura de custos é a responsável mais frequentemente citada para explicar porque a importação é cada vez mais conveniente do que a produção local.

O preço do gás – como matéria-prima ou como fonte energética – custa três vezes o cobrado nos EUA. A precificação que será adotada no Comperj ainda vem sendo negociada entre Braskem e Petrobras – as duas empresas também negociam o contrato de fornecimento de nafta, que vence em março. Por ano, a Petrobras fornece 7 milhões de toneladas de nafta à Braskem – 70% das necessidades da empresa. Os 30% restantes vem sendo supridos principalmente por Venezuela, Argélia e Rússia.

Nos EUA, a exploração do gás não convencional movimenta um investimento superior a US$ 90 bilhões.

Seis grandes projetos já foram anunciados, e até 2017 devem adicionar 6,25 milhões toneladas – esse novo patamar de competitividade significa pressão sobre a indústria petroquímica global. O anúncio mais recente foi feito pela Odebrecht: um complexo integrado de eteno e polietilenos, que será operado pela Braskem. A Dow investirá US$ 4 bilhões na construção de um cracker de etano com capacidade de 1,5 milhão de toneladas e uma planta de desidrogenação de gás propano no Texas.

A produção baseada em etano, que seria a alternativa mais urgente, pouco tem favorecido a geração de propeno no mercado americano – e as refinarias têm direcionado o petróleo para produção de gasolina e diesel. Para complicar a situação, o polipropileno tem que brigar pela matéria-prima com outros produtos, como oxido de propileno, ácido acrílico e

cumeno. Esse cenário só deve mudar com a entrada em operação das plantas de desidrogenação – seis unidades devem aumentar em 4,3 milhões de toneladas a capacidade de produção nos EUA até 2018, segundo projeção da IHS.

“O Brasil pode buscar outras regiões, como Coréia do Sul e Índia, para satisfazer o crescimento de sua demanda até que as plantas de polipropileno estejam construídas na América do Norte”, aponta o diretor de Poliolefinas da IHS, Joel Morales Jr.

 
 

A consultoria estima que entre 2013 e 2018 a demanda global por PP cresça em média 5% ao ano – atingindo 71,6 milhões de toneladas – enquanto a oferta avança 4,9% ao ano. A demanda global de polietilenos crescerá 4,5% ao ano – chegando a 102,9 milhões de toneladas em 2018. A oferta crescerá 4,6% e em 2018 somará 117 milhões de toneladas – a maior parte dessa capacidade adicional estará localizada em regiões que apresentem os menores preços de matérias-primas, com destaque para os EUA e para a China, com suas grandes reservas de carvão.

Química verde

O shale gás também é apontado pelo consultor Maurício Jaroski, da Maxiquim, como o responsável pelo arrefecimento nos investimentos em fontes renováveis.

As iniciativas agora têm como drivers as cadeias mais pesadas, que não são produzidas a partir do shale gás – a Braskem, por exemplo, já anunciou acordo com a americana Genomatica para desenvolvimento de butadieno a partir de matéria-prima renovável.

“A química verde surgiu uma alternativa aos altos preços do petróleo e à escassez de matérias-primas nos EUA. Com o advento do shale gás, houve um desaquecimento, com reflexos no Brasil, que é referência nesse setor”.

A escassez de novos projetos no Brasil não afeta apenas a balança comercial – mas toda a cadeia de fornecedores. “A empresas químicas e petroquímicas têm investindo cerca de US$ 3 bilhões por ano, aquém do necessário e muito pouco comparado com a indústria de petróleo e gás. A Petrobras investe entre US$ 30 bilhões e US$ 40 bilhões. Além disso, as multinacionais que têm acordos globais com empresas de engenharia, os contratos migram das matrizes para as filiais brasileiras, numa negociação direta, sem oportunidades para as empresas de engenharia no Brasil”, aponta o diretor de Química e Petroquímica da Associação Brasileira de Engenharia Industrial, José Octávio de Alvarenga.

Um estudo encomendado pelo BNDES às consultorias Bain e Gas Energy deverá identificar segmentos dentro do setor químico com maior potencial de produção nacional – a partir das conclusões, o governo deve traçar políticas públicas para incentivar a diversificação da indústria química nacional para além das commodities petroquímicas. “O objetivo do estudo é divulgar oportunidades em outros segmentos da química, menos estudados e conhecidos, que possam estimular investimentos”, explica o chefe do Departamento de Indústria Química do Banco, Gabriel Gomes.

No ano passado, a Medida Provisória 613 deu um alento à indústria petroquímica, com a desoneração de PIS e Cofins incidentes sobre a compra de matérias primas. Mas ela tem prazo de validade: a partir de 2016 voltará gradualmente aos patamares originais e não chega a favorecer o Comperj ou qualquer novo projeto. Falta o governo federal encontrar um plano, de longo prazo, para agregar valor às matérias-primas nacionais.

 

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