Edição 325 • 2010

A nova era da indústria petroquímica
Entrada de estatais e fundos de capital redesenha o negócio petroquímico no mundo – em que brilharão os emergentes.

Flávio Bosco

ADow continua a ocupar o posto de maior empresa petroquímica do mundo. Sua posição, no entanto, não é perseguida apenas por uma empresa americana ou européia. No seu encalço, a Sabic – uma estatal saudita, gerida nas es- tratégias de governo em agregar valor ao petróleo e ao gás natural extraído de seu subsolo – tomou o lugar da ExxonMobil entre as maiores produ- toras mundiais de eteno. Tradicionais companhias – que foram responsáveis pelos grandes avanços do setor desde que os pesquisadores da ICI sintetiza- ram o polietileno em altas pressões e temperaturas na década de 30 – ainda têm lugar na nova organização petro- química mundial. Porém, não estão mais sozinhas.

Os beneficiários dos altos preços do petróleo e os fundos de private equity ocupam agora posi ções importantíssimas nesse ranking, com implicações profundas para o negócio petroquímico global. No início do ano, a Dow Chemical vendeu seus negócios de estirênicos para o fundo de private equity Bain Capital, por US$ 1,63 bilhão – não é de hoje que a empresa anuncia o desinteresse em manter a produção de commodities, em que os preços são ditados basicamente pela oferta e pela demanda de mercado. A estratégia abre espaço não só para os fundos de investimentos, mas também para as petroleiras estatais – haja visto a ascensão de Sabic à lista das dez maiores produtoras de eteno do mundo – e empresas de países emergentes – como a indiana Reliance e a brasileira Braskem, que fechou a compra da americana Sunoco Chemicals, que detém 13% de um mercado seis vezes maior do que o brasileiro.

Em comum, além de um vigoroso mercado doméstico, todas têm como estratégia avançar para outras fronteiras. "A mudança é estrutural, e veio para ficar. Mas essa mudança no perfi societário não significa uma grande alavanca para mudanças no perfil do negócio, que vai continuar tendo as suas margens definidas pela oferta e demanda", avalia o consultor Otavio Carvalho, da Maxiquim. Uma nova indústria petroquímica mundial está a pleno vapor em pontos distintos do planeta – de acordo com uma projeção da consultoria Nexant, os megacomplexos petroquímicos erguidos no Oriente Médio e na Ásia ampliaram a participação dessas regiões de 36% em 1999 para 49% em 2009, enquanto EUA e Europa assis- tiram sua participação cair de 52% para 39%.

Nos próximos anos, esse cenário só tende a se acentuar – e é cada vez menor a probabilidade de que resinas continuem sendo produzi- das nos EUA ou na Europa. Matérias-primas subsidiadas e mercados com maior promessa de crescimento têm atraído como nunca os donos do negócio. Pelas projeções da consultoria CMAI, apresentadas na conferência da Asia Petrochemical Industry, entre 2009 e 2014 a Europa perderá 1,8 milhões de toneladas de capacidade de produção de polietilenos, enquanto os EUA verão fechados 700 mil toneladas. Os EUA ainda depositam suas esperanças no shale gas – extraído das formações rochosas de xisto betuminoso. É essa fonte que pode satisfazer o consumo energético do país.

A Ásia, com uma produção que já ultrapassa a européia, verá sua capacidade instalada crescer 5,5 milhões de toneladas até 2014. No Oriente Médio serão agregados mais 7,2 milhões de toneladas de polietilenos. Diante desse tipo de projeção, é natural que empresas como Exxon, Total e Shell inaugurem por lá suas novas plantas. O fortalecimento da Sinopec e Reliance, no entanto, esbarra em uma questão estrutural de Índia e China: a falta de matérias-primas para suprir grandes saltos de capacidade. "Diferente da Índia e da China, que é um grande importador de petróleo, há perspectivas de haver matérias-primas no Brasil em longo prazo com o pré-sal.

Isso talvez seja um grande diferencial do país nessa próxima dé- cada", avalia Otavio Carvalho. Antes classificado entre o resto do mundo, o Brasil ganhou destaque nos estudos do setor depois que a Petrobras anunciou as grandes reservas abaixo da camada de sal. Em paralelo, a Braskem retomava a tecnologia de produção de polietilenos a partir de álcool. "Não é à toa que vemos movimentos significativos de empresas multinacionais vindo investir no Brasil. O movimento das classes C e D no Brasil tem sido fantástico.

O consumo de plástico entre as classes A e B só aumenta quando um bem incorpora uma nova tecnologia, ao passo que essas outras classes que começam a entrar na renda nacional continuam consu- mindo plásticos", lembra o consultor da GásEnergy, Carlos Alberto Lopes. O maior atrativo do Brasil, no entanto, é o plástico verde. Um estudo da Associação Brasileira da Indústria Química a partir das projeções de consultorias internacionais aponta que o país responderá por metade da produção de plásticos de fontes reno- váveis em 2020 – quando esse tipo de resina representará 10% do consumo mundial.

Até agora, apenas o projeto anunciado pela Braskem saiu do papel – e ainda este ano deve colocar em operação a primeira fábrica dedicada a esse segmento. A Solvay, que planejava fazer PVC pela rota do etanol, colocou seu plano em compasso de espera após a crise econômica mundial, e a Dow aguarda a avaliação da Louis Dreyfus – que incorporou sua sócia SantelisaVale – para prosseguir o investimento em uma planta de polietilenos. A viabilidade da rota alco- olquímica para produção de resinas ainda é vinculada mais ao seu apelo ambiental do que ao seu preço de venda. "O plástico vindo de um produto renovável representa a mitigação de riscos, porque será outra matéria-prima. E, para a indústria, ele acaba fun- cionando como referencial de preços, a exemplo do que o etanol é para a gasolina no mercado de combustíveis", finaliza Carlos Alberto Lopes.



Plano de investimentos da Braskem chega
a R$ 1,6 bi em 2010
Nos próximos meses, a Braskem irá aportar R$ 360 milhões no pólo petroquímico do ABC para concluir os projetos de expansão da produção de eteno e polietilenos. O investimento de R$ 2 bilhões – realizados ainda sob o comando da Quattor, adquirida pela Braskem no início do ano – ainda não geram receita. O valor representa 22% do plano de investimentos da empresa para este ano. A maior parte – R$ 462 milhões – tem como destino as despesas com a própria operação, que incluem automação, modernização e meio am- biente.

Outros R$ 317 milhões estão reservados para a manutenção nas plantas de Camaçari / BA. A unidade de Duque de Caxias / RJ – que também terá uma parada programada de manutenção este ano – deve ainda ganhar um projeto para afinar sua produção a plena capacidade, de 540 mil toneladas de polietilenos por ano segundo o projeto original. Essa é apenas parte do plano de se tornar uma das cinco maiores produtoras de resinas do mundo até 2020. "O primeiro trimestre significou a consolidação do passo estratégico rumo à liderança da petroquímica mundial", conta o presidente da em- presa, Bernardo Gradin, se referindo a aquisição da Quattor e da Sunoco Chemical.

A vedete dos investimentos será mesmo a planta de polietileno verde. A partir de setembro deste ano, as unidades estarão prontas para expelir os primeiros grãos de resina feita a partir do etanol da cana-de-açúcar. A execução da obra já ultrapassou o índice de 80% - só restando agora a montagem das tubulações por onde passará o etanol que será transformado em eteno. Todo o empreendimento custou R$ 500 milhões ao caixa da Braskem – R$ 254 milhões desembolsados só neste ano. Isso porque a empresa precisou construir apenas a unidade que transforma o etanol em etano, e aproveitou uma folga na unidade de polimerização já existente em Triunfo / RS.

A receptividade que o plástico verde obteve na fase de pré-market, com 80% das produção já fechada com clientes na Ásia e na Europa, animou a Braskem a pensar em novas fábricas – embora não dê detalhes dos próximos passos. "No médio prazo talvez sejam anunciada novas plantas em outras regiões do Brasil, porque o país é uma liderança em etanol. Mas imagino que outros países também já estejam pensando em outras fontes renováveis para a indústria petroquímica", avalia o consultor da Maxiquim, Otavio Carvalho. Além disso, o plano de investimentos para este ano inclui R$ 72 milhões no México e R$ 35 milhões na Venezuela, onde a Braskem tem joint venture com a estatal Pequiven.

Já os ativos da Sunoco Chemical – rebatizados agora com o nome de Braskem America – receberão de R$ 56 milhões em desgargalamento. Os planos da Braskem para os EUA são um pouco mais ambiciosos: a empresa conversa com empresas dispostas a se desfazer de unidades produtoras de insumos básicos e resinas para ampliar sua presença no mercado americano. No Brasil, a Braskem deverá definir o modelo de sua participação no Comperj até o final do ano – e na PetroquímicaSuape até o final do terceiro trimestre. O plano de investimentos inclui ainda a expansão de 200 mil toneladas da capacidade de PVC em Marechal Deodoro / AL, hoje na ordem de 255 mil toneladas ao ano. O projeto previsto para estar concluído no primeiro semestre de 2012 prevê investimento de US$ 470 milhões, e deve aproveitar o excedente de dicloroetano hoje exportado.

 
 

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