Edição 320 • 2010

Menos carbono -
A química do resfriamento global
Planejamento, disponibilidade, gestão de ativos, foco nos resultados. Como princípios da administração estão ajudando a reescrever a história da manutenção

Flávio Bosco

Esferas de cerâmica desenvolvidas por dois químicos da Universidade Federal de Minas Gerais têm potencial para sequestrar, ainda nas chaminés, 40% do gás carbônico emitido pela queima de combustíveis. Na UFRJ, uma Unidade Piloto para Produção de Biossurfactante recém inaugurada tem como objetivo produzir detergentes biodegradáveis no País. Definitivamente as ameaças do aquecimento global tornaram maior e mais complexa a relação entre a produção industrial, a pesquisa acadêmica e o meio ambiente. No centro desta discussão, a indústria petroquímica – que carrega os adjetivos de importante demandante de recursos naturais e grande emissor global de gases causadores do efeito estufa – também pode ser parte da solução.

Um estudo desenvolvido pela consultoria McKinsey vem sendo utilizado pelas empresas químicas do mundo inteiro para mostrar que, para cada tonelada de CO2 equivalente gerado na indústria, o uso dos seus produtos evita a geração de aproximadamente 2,6 toneladas de CO2 equivalente quando comparados com materiais alternativos. É o caso dos materiais plásticos que reduzem o peso – e por consequência o consumo de combustíveis – nos veículos, ou dos isolantes térmicos que reduzem o consumo de energia elétrica em sistema de refrigeração.

Nas estratégias de desenvolvimento de novos produtos, os quesitos de sustentabilidade – ecoeficiencia e baixo impacto “do berço ao túmulo” – ganharam peso semelhante às questões econômicas e financeiras. Algumas corporações já estão aproveitando a onda: na Rhodia as vendas de produtos com esse foco já significam um terço das vendas – em 2005 os itens que consideravam a ecoeficiência respondiam por 22% do seu faturamento. “Se um projeto não passa pelo crivo da sustentabilidade, tem poucas chances de prosseguir”, conta o presidente da Rhodia para a América Latina, Marcos De Marchi.

É bem provável que surja uma regulação abrangente das discussões da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança no Clima – COP15, agendada para dezembro em Copenhague, quando representantes de vários países discutirão o que irá substituir o Protocolo de Kioto. Entre taxar as emissões e transformar a questão climática em barreira comercial, há um espaço para estímulo ao desenvolvimento de produtos e tecnologias limpas.

A solução propriamente dita sairá dos laboratórios. Pode até ser que não esteja restrito exclusivamente ao campo da engenharia química, mas será resultado da convergência de várias áreas. Nos dois casos descritos no início dessa reportagem, a pesquisa tem um forte apoio da iniciativa privada.

Diminuir as emissões de CO2, no entanto, não será uma tarefa banal. Os combustíveis fósseis continuam sendo, com folga, as fontes dominantes de energia primária por mais duas décadas. “Em 150 anos o mundo consumiu um trilhão de barris de petróleo. Nos próximos 30 ou 40 anos deve consumir 1,3 trilhão de barris. A indústria se reinventa, mas vai fazer isso sob forte pressão”, ressaltou o presidente da BR Distribuidora, José Lima de Andrade Neto, durante o Seminário de Responsabilidade Social promovido pelo Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis.

Há um consenso de que a temperatura média do planeta não pode subir mais do que 2oC nem a concentração de CO2 na atmosfera pode ultrapassar o limite de 450 ppm. Mas as curvas de consumo de energia – e de emissões – continuam ascendentes, principalmente em locais onde há mais pobreza. Para o clima continuar em níveis seguros, o planeta precisa, até 2050, cortar entre 50% e 80% das emissões relativas ao padrão de 1990, o que exige mudanças profundas no modelo de geração de riqueza da forma como estamos acostumados desde o surgimento da primeira máquina a vapor.

A transição para formas limpas de energia custaria cerca de US$ 10 trilhões até 2030, segundo cálculos da Agência Internacional de Energia – que admite um aumento nos custos dos combustíveis fósseis e nas as emissões de CO2 se não houver mudanças nas políticas públicas.



Consumir de forma eficiente


Nos últimos oito anos a indústria química brasileira conseguiu reduzir em 23% as emissões de CO2. Em 2001, quando o levantamento começou a ser feito pela Associação Brasileira da Indústria Química, as fábricas liberavam para a atmosfera 415 kg de dióxido de carbono por tonelada produzida, e no ano passado as emissões caíram para 318 kg por tonelada. O esforço impressiona quando comparado à média mundial da indústria química – que, embora tenha caído num ritmo mais veloz (34% entre 2001 e 2007), ainda emite 630 kg CO2 por tonelada produzida.

É hora de identificar oportunidades: apenas 1,7% das emissões nacionais vêm das indústrias. As atividades associadas ao uso da terra, como o desmatamento e a agropecuária, são responsáveis por 77% das emissões do país, segundo estudo divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente. O setor de energia responde por uma fatia de 20% de cerca de 1,9 bilhão de toneladas de CO2 equivalente – que soma o gás carbônico, o metano e o óxido nitroso – que o país teria lançado na atmosfera em 2007. Em 1994, data do último levantamento semelhante, a geração de energia respondia por 17% das emissões.

O Governo brasileiro acena levar para Copenhague uma meta voluntária para reduzir entre 36% e 38% as emissões projetadas para 2020 – um corte próximo de 1 bilhão de toneladas em relação ao cenário que prevê emissões de 2,7 bilhões de toneladas de CO2.

O desafio maior, de equacionar as emissões decorrentes da expansão na demanda de energia, aparentemente tem uma solução simples: colocar um freio na economia ou abdicar das fontes fósseis de geração de energia. A crise que abalou o mercado financeiro no último ano, por exemplo, foi responsável pela maior queda nas emissões de CO2 dos últimos 40 anos, segundo a Agência Internacional de Energia.

No Seminário realizado pelo IBP, o presidente da BP no BP no Brasil, Shafe Alexander destacou que as energias renováveis ainda representam uma pequena parcela no total do consumo mundial – o etanol equivale a 0,9% de todo o petróleo consumido globalmente, enquanto as fontes de energia solar, eólica e geotérmica fornecem 1,5% da eletricidade. “O crescimento das energias renováveis foi liderado pelos países da OCDE, onde o apoio político é mais forte”.

Ainda faltam incentivos governamentais para estimular o desenvolvimento nos países que não fazem parte do grupo – e que gastam mais energia para produzir a mesma riqueza. “Estamos gastando muita energia, mas não está rendendo por falta de eficiência”, ressalta Alexander.

Por isso os ganhos podem vir de lugares menos prováveis – como a modernização dos equipamentos elétricos ou a adoção de um software que controle o consumo energético, permitindo gerenciar melhor a demanda, deslocar consumos, evitar os indesejáveis picos de demanda e ter uma carga mais uniforme ao longo do dia. Nas refinarias da Petrobras, um programa de otimização do balanço termelétrico conectado ao software Plant Information informa à operação a melhor configuração de acionamento entre turbinas e motores.

Na esteira da onda ecoeficiente, os produtos estão saindo das fábricas com a marca Rohs – uma norma que faz parte da diretiva Waste Electric and Electronic Equipment, garantindo a ausência de chumbo, metais pesados ou substâncias químicas altamente poluidoras. Alguns até utilizam plástico reciclado pós-consumo. A revolução já está varrendo o mundo tecnológico.

 

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