Edição ESPECIAL 231 – Outubro de 2001

Uma relação tão dedicada...

As crises do petróleo despertaram o Brasil e o mundo para o fato de que era preciso encontrar soluções locais para o problema energético. De fato, ainda hoje a OPEP detém mais de 60% das reservas de petróleo do mundo; no final dos anos 70, a situação parecia ainda pior. No Brasil, a Petrobras foi chamada a reforçar as buscas pelo ouro negro e várias outras entidades – entre empresas, universidades e centros de pesquisa – começaram a pontuar a necessidade de se usar energias alternativas. Nascia o Pró-Álcool.
Em meio ao agito político-econômico que marcou o final daquela década, surgia também a necessidade de se criar um veículo de comunicação técnica para suprir as diversas comunidades envolvidas na busca de soluções. Era preciso informar o que se estava fazendo mas, ainda mais importante, ajudar na formação de brasileiros que ingressavam nos setores de petróleo, gás, petroquímica e química, setores dominados por profissionais de fora.
Da idealização até a efetiva materialização do veículo de comunicação, passando por registros hoje impensáveis como o da Polícia Federal – obrigatório à época para cobrir o setor –, foram dois anos. Os jornalistas e fotógrafos, credenciados; as pautas e o mailing, previamente censurados. O título deveria ser abrangente o suficiente para ser representativo para todas as comunidades envolvidas: da prospecção à distribuição de petróleo e gás, incluindo o ensino e as pesquisas, a tecnologia, os negócios, a operação e a química. Deveria atender um range de público muito grande sem se perder. O refino e os produtos daí derivados, bem como a petroquímica, deveriam ser contemplados.
PETRO & QUÍMICA. PETRO de petróleo e gás (associado ou não); QUÍMICA de todos os processos químicos envolvidos; petroquímica como um todo. Missão: formar e informar esses setores sobre seus negócios – fechados e em andamento –, sobre serviços, produtos e tecnologias disponíveis. Mas o Brasil é maior que seus problemas. A política mudou, a economia teve seus altos e baixos e a Petrobras soube superar-se a si própria. A Petro & Química acompanhou todos os momentos dos setores que cobre e sofreu também com as intempéries da economia, passando por três editoras diferentes mas, reconhecida sua importância pelo mercado, nunca ficou mais de dois meses sem circular. Pode-se dizer mesmo que a Petro & Química carrega em si o sonho, o compromentimento e o profissionalismo, pois, esses três componentes foram decisivos para que um funcionário decidisse arcar com os custos de adquirir aquele e os outros veículos técnicos originários da mesma editora-mãe.
Se na década de 70 as crises de 1973 e 1979 impulsionaram a descoberta de vários campos como Tainha (SE), Cavala (AL), Agulha (RN) e a própria Bacia de Campos, a construção de novas refinarias e a implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari (BA), a marca da década de 80 são os “Sistemas de Produção Antecipada” a descoberta de Urucu (AM) e a contagem regressiva para os trabalhos em águas profundas. Isso se deu com o início do desenvolvimento do Campo de Marlim, através de projeto piloto.
No começo dos anos 80, a Petro & Química elaborou para o IBP – Instituto Brasileiro de Petróleo o CCP – Catálogo Composto da Petrobras, embrião de todos os Guias do setor. A Petro & Química foi evoluindo com suas versões impressas do Guia de Compras para Anuário – Guia do Comprador e, há dois anos, mantém a lista em seus sites, de acesso gratuito.
Numa verdadeira avalanche de sucessos, a Petrobras ia exigindo cada vez mais de seus fornecedores. Ao contrário da estatal, ao final da década de 80, início dos anos 90, a indústria nacional estava perdendo suas empresas de engenharia. Mas a Petrobras seguia firme no rumo do estado-da-arte. Tanto que o primeiro robô submarino veio logo em 87, com projeto e construção brasileiros.
No mesmo ano em que a Petrobras ganhava seu primeiro Prêmio OTC como a empresa que mais contribuiu para o desenvolvimento tecnológico de toda a indústria offshore mundial, o Brasil estava mergulhado no debate das privatizações. O resultado de uma pesquisa realizada pela Petro & Química sobre a privatização da Petroquímica brasileira e mesmo da Petrobras revelava que os leitores estavam preocupados com a forma como isso seria conduzido e, portanto, eram em sua maioria, contrários àquela política.
A Petro & Química recebe um estudo sobre a privatização da petroquímica brasileira – tripartite até então – que teria sido supostamente encomendada pela Abiquim e que defendia que os ganhos só aconteceriam se uma empresa trabalhasse a cadeia toda. Como era o caso da Petroquisa. O estudo não foi publicado por motivos relacionados ao direito das comunicações. Naquele ano, foram privatizadas a Indag, a Petroflex, a Copesul, a CNA, a Nitriflex, a Fosfértil, a Polisul, a PPH, a Goiasfértil e a CBE. No ano seguinte, privatizaram-se a Poliolefinas e a Ultrafértil. Em paralelo corriam as privatizações da telecomunicação e da energia e a Petrobras sentia sérias restrições orçamentárias.
Até a posse do atual presidente da Petrobras, Henri Phillippe Reichstul, o receio de que a Petrobras fosse privatizada era grande. Ainda se aventa a hipótese, sob alegação de que a reestruturação da estatal seria apenas um meio de facilitar sua venda por partes. Mas, o que de fato existe é a flexibilização do monopólio da exploração e produção e, em breve, a quebra do monopólio de fato do refino. Se alguém, além da Petrobras vai investir, é ainda duvidoso.
A criação da ANP e sua condução, até o momento, têm gerado poucas controvérsias. Entre as agências reguladoras, tem sido a mais técnica e transparente, talvez por tratar de bem tão precioso para o mundo inteiro. A perspectiva de que ANP associe-se à Aneel foi levantada várias vazes e ainda não foi totalmente descartada. Talvez seja a saída para amenizar as grandes questões energéticas brasileiras que buscaram, mais uma vez, apoio na Petrobras.
Os próximos anos serão marcados por uma competição ainda maior. As não-garantias são as únicas certezas econômicas. Mas pode-se apostar, com menores riscos de perda, que empresas que enfrentaram esses maremotos das últimas três décadas têm maiores chances de sobreviver. Principalmente, se guardam em si valores como profissionalismo, comprometimento e sonho.
Nossos parabéns para todos os profissionais que temos acompanhado durante nossa breve história. São muitos. Alguns ainda encontramos no batente. Outros aposentaram-se ou nos iluminam, de alguma forma. São pessoas de empresas de equipamentos – muitos “valvuleiros”, gente de automação, de tubos... –, de serviços – saudades de muitos amigos da antiga Ceman e de tantas empresas de engenharia... –, pesquisadores, operadores, diretores... E parabéns também para os novos amigos: os que estão chegando com os novos players do setor, os que estamos conhecendo agora. Porque saber de onde se vem é muito bonito porque teremos sempre a quem perguntar e a quem agradecer.

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